Descrição de chapéu sustentabilidade beleza

Saiba como marcas de beleza limpa têm conquistado espaço no Brasil

Fórmulas usam insumos comprados de pequenos produtores ou produzidos pela própria empresa

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São Paulo

Pequenas e médias marcas brasileiras estão se consolidando no mercado de beleza limpa, baseado em cosméticos feitos com ingredientes naturais, sem ativos sintéticos ou de origem animal.

As fórmulas priorizam matérias-primas fornecidas por produtores locais ou, em alguns casos, cultivadas pela própria marca.

Por razões diferentes, este universo faz parte da vida das fundadoras da Care Natural Beauty antes mesmo do início da marca, em 2018.

Imagem destaca quatro batons de tons diferentes de rosa, vermelho e laranja; ao lado, há várias embalagens de cosméticos em tons verdes
Produtos naturais, veganos e orgânicos da Care Natural Beauty, fundada por Patrícia Camargo, 38, e Luciana Navarro, 40 - Zanone Fraissat/Folhapress

Patrícia Camargo, 38, repensou a rotina de cuidados após trabalhar no setor jurídico de uma multinacional de cosméticos, enquanto Luciana Navarro, 40, encontrou uma opção para se maquiar durante a quimioterapia, seguindo a recomendação médica de evitar produtos tradicionais devido à baixa imunidade.

Juntas, reuniram dermatologistas, farmacêuticos e maquiadores para desenvolver formulações limpas, com alta concentração de ativos e em embalagens sustentáveis de vidro, papel e alumínio. No lugar de compostos sintéticos, como parabenos e petrolatos, entraram matérias-primas naturais, como açaí e pracaxi, nativos da Amazônia.

Em 2021, o crescimento da Care Natural Beauty foi de 300%. O portfólio tem 32 opções naturais, veganas e orgânicas, que custam de R$ 59 a R$ 349. A operação fica em São Paulo, onde trabalham 15 funcionários, mas a empresa também vende pela internet e entrega em todo o Brasil.

Camargo diz que sempre apostou numa relação próxima com o consumidor, que ajuda a divulgar os produtos.

"Quando nem se falava tanto em comunidade, em empresas nativas digitais, a gente já criava isso com as nossas consumidoras. À medida que usaram os produtos, viram que podem confiar, que eles fazem efeito na pele. A recomendação boca a boca foi fundamental no começo", conta.

Tem também quem plante parte dos ingredientes de suas fórmulas. É o caso da Bisyou, fundada em 2020, que produz tomilho, componente de seu preenchedor facial sem agulhas, em Sorocaba (SP). Hoje, ele é vendido no e-commerce da marca por R$ 129,90.

Para testar a qualidade deste produto, o primeiro vendido pela empresa (que hoje tem mais dois no portfólio), a Bisyou primeiro conversou com dermatologistas, influenciadores e consumidores.

Depois, além de testes com voluntários que experimentaram o cosmético e relataram sua percepção, investiu em testes em cultura de células para observar a ação do produto em pele humana e avaliações do rosto em três etapas (antes, após 30 dias e após 60 dias de aplicação) com um scanner para verificar se houve preenchimento.

"Conforme as pessoas testaram e viram o resultado, começaram a ser advogadas da marca, dizendo que o produto funciona. Tinha aprovação da Anvisa, testes de eficácia e, com o consumidor aprovando, a gente passou a crescer nesse mercado", diz a engenheira química Carolina Viudes, 28, fundadora.

A tendência da beleza limpa ganhou mais força no país durante a pandemia, devido à atenção maior das pessoas com saúde e bem-estar, explica Andrezza Torres, coordenadora nacional de beleza e cosméticos do Sebrae. Outro ponto foi a evolução da indústria nacional do setor.

"Os consumidores brasileiros têm se convertido às marcas nacionais pela qualidade que elas vêm alcançando. Elas têm apurado a sua produção, avançado na competitividade. Fazem isso às vezes de forma genuína ao utilizar ativos dos nossos biomas."

Há, ainda, uma questão geracional, com pessoas mais preocupadas em consumir cosméticos limpos.

"A geração Z está muito mais preocupada com isso do que gerações anteriores. À medida que ela entra no mercado de trabalho e ganha poder de compra, o impacto é bastante positivo para a cosmética verde", afirma.

Além disso, a alta do dólar, que encarece e reduz o consumo de cosméticos importados, incentiva o consumo dos nacionais. Com a inflação, porém, há redução do poder de compra do consumidor, fator que desafia as pequenas marcas.

Ao criar a Bergamía em 2018, o casal Anna Paula Oliveira, 33, e Felipe Drummond, 36, também investiu em proximidade para ganhar a confiança e identificar a demanda de clientes, pequenos influenciadores digitais do setor de beleza limpa e dermatologistas.

"Foi um aprendizado incrível para conhecer a comunidade, inclusive questões sazonais, estruturais e geográficas —desde diferença social, de quanto as pessoas têm para gastar nesses rituais, até quão seca é a pele da galera em Brasília", diz Drummond.

A partir de ingredientes como camu-camu, castanha-do-pará e buriti, as fórmulas dos 20 cosméticos naturais e veganos da marca foram desenvolvidas por Oliveira, que é farmacêutica e bioquímica. No e-commerce da Bergamía, os preços variam entre R$ 50 e R$ 120.

"Há um grande desenvolvimento regional, então a gente tenta usar isso para fomentar o consumo interno de ingredientes brasileiros", afirma Drummond.

Os produtos também passaram por testes físico-químicos, de segurança e de eficácia em laboratórios externos, e são registrados na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), etapa obrigatória para todos os cosméticos.

O empreendedor também pode considerar alternativas menos complexas para apostar neste nicho, segundo Torres, do Sebrae, como comércio ou serviços especializados de beleza que priorizem cosméticos naturais e veganos.

Para Torres, questões técnicas são desafios, mas negócios de beleza limpa são viáveis e podem ser promissores.

Ela ressalta que o Brasil é o quarto maior consumidor de beleza e cuidados pessoais do mundo, de acordo com a Euromonitor International, empresa de pesquisa de mercado, e lembra que a tendência de utilizar ingredientes naturais e nativos do Brasil também é seguida por grandes empresas do setor, como a Natura.

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