Conheça empreendedores veganos; lista tem dermatologista

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Relatos incluem também história de irmãos que buscam disseminar esse estilo de vida na periferia

São Paulo

O empreendedorismo vegano vai além da abertura de restaurantes. Além disso, quer se desfazer da pecha de que é caro seguir o estilo de vida. Empresários que atuam na área também exploram o setor da beleza e até gerenciam marketplaces.

Na periferia, um perfil de Instagram criado por dois irmãos busca mostrar que adotar o veganismo não é algo necessariamente caro. Leia abaixo as histórias de empreendedores que dispensam os produtos de origem animal.

Usamos produtos livres de crueldade

Monalisa Nunes, 30, é médica atuante na área de dermatologia. Tem 317 mil seguidores no Instagram e é dona da clínica Derma Vegan, em São Paulo

Os passos [da rotina de skin care] são iguais: limpeza, hidratação e esfoliação —o que muda é o produto. Em vez de usar os que têm origem ou que foram testados em animais, escolho outros, livres de crueldade. O veganismo é um movimento, não um padrão alimentar. Seguir suas ideias é mais fácil do que parece. Você não precisa comprar um batom testado em animais, pode escolher outro, é simples. Mas sou acolhedora e meu objetivo na internet é mostrar como o veganismo pode ser acessível: há produtos de todos os preços, gostos, cores e estilos. Quanto mais você puder fazer em busca de uma relação mais carinhosa com o planeta, melhor. No ano passado eu criei a Derma Vegan, espaço com foco em pacientes veganos, vegetarianos e naturalistas. Sou dermatologista e formei uma equipe de mulheres, cis e trans, de diversas especialidades, capacitadas para atender esses pacientes. Para colocar a clínica de pé, investi entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. Tenho muitos pacientes veganos e vejo que eles procuram esse lugar de paz. Aqui eles sabem que tudo estará alinhado aos seus ideais, desde o café até a consulta. (Thaís Magalhães Manhães)

Fotografia colorida em plano médio de uma mulher negra que sorri e veste um jaleco branco em uma das salas da sua clínica médica chamada Derma Vegan, Faria Lima, zona sul, SP.
Monalisa Nunces, 30, dermatologista vegana, em sua clínica, a Derma Vegan, na zona sul de SP. - Divulgação

'É preciso trazer o debate à periferia'

Eduardo e Leonardo Santos, 25. Os gêmeos são os idealizadores do perfil Vegano Periférico, com 355 mil seguidores no Instagram, e protagonistas do documentário de mesmo nome

Eduardo: Somos da periferia de Campinas. Uma vez fui a uma loja vegana em uma área privilegiada da cidade e lá encontrei pessoas divulgando o veganismo com camisetas [com mensagens] em inglês. Pensei: ‘esse movimento não é para mim’. Porém, o assassinato de animais, a destruição ambiental pela agropecuária e a exploração humana me fizeram pensar ‘espera aí, o veganismo é para a gente, sim’. É preciso trazer o debate para a periferia, pois são as pessoas daqui que primeiro vão sofrer as consequências dessa cadeia de produção.

Leonardo: Existe a ideia de o veganismo ser coisa de playboy, mas, quando cortei a carne [da alimentação], passei a gastar muito menos. Se a pessoa está numa realidade difícil na periferia, mas tem as mínimas condições, ou seja, não depende de cesta básica, ela tem sim total condição de ser vegana, porque não é caro. Outra questão é o machismo. Quando a gente conversa com os moleques na periferia, vemos que parte do receio de não comer carne é porque acham que podem perder a masculinidade. Tanto que 86% dos nossos seguidores são mulheres. (Thaís Magalhães Manhães)

'Há gente cansada do veganismo de elite'

Wellington dos Santos, 32, sócio do restaurante Salad Days, em São Paulo

Eu e minha sócia, Rosane, éramos envolvidos com punk e hardcore, e o veganismo sempre foi uma pauta em eventos desse tipo. Há nove anos, montamos uma cooperativa de entrega de marmitas veganas. Em 2016, alugamos um espaço para criar o Salad Days, que funcionava só aos sábados. Quando inauguramos, foi um caos. As pessoas esperavam três horas na fila para comer. Nos mudamos para uma garagem, que também não suportava a demanda. Depois alugamos outro espaço e fizemos uma reforma, mas uma semana após a inauguração veio a pandemia. Foi complicado, mas construímos nosso próprio delivery e bombou. Agora mudamos o cardápio, de hambúrgueres para comida latino-americana. Por que vender hambúrguer se tem tanta coisa boa aqui? Nosso choripán é um dos lanches mais pedidos. A demanda tem crescido e vem gente de todo tipo. Muitos comem carne, mas também há veganos cansados do veganismo de elite, que custa caro. Estamos nos mudando de novo, desta vez para um local muito maior. Planejamos usá-lo também para feiras, shows e palestras. (Luany Galdeano)

'Proteína vegetal não é só guarnição'

Fábio Zukerman, 42, dono do restaurante Green Kitchen, em São Paulo

A sociedade coloca a proteína animal no centro do prato, e a vegetal é guarnição —para nós, ela é o prato todo. Produzimos "frango" de plantas em seis horas. Fazemos nosso "ovo" com castanha de caju, com textura, cores e gosto do ovo animal usando sal negro, uma substância natural. Produzimos também "pancetta" 100% vegetal, e quem come sem saber não diz que o alimento é vegano. Gorduras, proteínas, aminoácidos e aromas naturais, tudo que a carne tem existe também na natureza. A proteína isolada do feijão, matéria-prima 100% nacional, traz resultados muito bons. O invólucro da nossa linguiça é feito de algas. Usamos [a tecnologia de] extrusão úmida, que garante textura de carne e aromas 100% naturais. Nosso "bacalhau", produzido na Páscoa, é feito por extrusão úmida e custa R$ 90 o quilo. Trabalhamos com as principais indústrias do mundo em tecnologia para produzir carnes análogas que trazem memória afetiva e prazer —85% dos nossos clientes não são veganos. O aporte inicial foi alto, ficamos quase um ano em cozinha de testes. Em junho vamos lançar uma franquia. (Thaís Magalhães Manhães)

'A cozinha é criativa e o tempero é gostoso'

Fausto Oi, 41, sócio do restaurante Urbã, em São Paulo

O Urbã surgiu em 2019 de uma ideia que tive com minha esposa, Marisa Villi, e com o André Vieland, chef de cozinha, meus sócios. Eu e André conhecemos o veganismo a partir do hardcore punk, dessa contracultura, como forma de protesto. Muitas bandas de que nós gostamos falam sobre veganismo e vegetarianismo. Eu me tornei vegano em 1998. Como havia poucas opções industrializadas no mercado, para nós sempre foi natural preparar um hambúrguer de grãos ou de tofu, por exemplo. O importante é combinar ingredientes e temperar bem. Nossa cozinha é criativa e o cardápio não é fixo, os pratos são definidos no próprio dia e a refeição custa R$ 28. Quem está na cozinha dá as ideias. Às vezes pegamos a receita de um prato com carne e a substituímos por proteína vegetal. Fazemos do nosso jeito, com um tempero bem gostoso, e as pessoas gostam e voltam. O Urbã é um restaurante, mas é também um espaço que abriga ideias. Aqui temos a sorveteria vegana Calma, a cervejaria artesanal Rat e a lanchonete Downtown Vegan Food. E tem também a Na Moranga Vegan, que serve café da manhã aos finais de semana. (Thaís Magalhães Manhães)

'Ideia é reunir marcas veganas num só lugar'

Raphael Carvalho, 27, fundador e CEO do marketplace Atlantikos

Minha mãe é vegana há 20 anos e sempre teve dificuldade de encontrar uma variedade de produtos em um só lugar. Eu sou vegano há três anos e meio e comecei a sentir o mesmo. Em 2019 tive a ideia de abrir uma loja colaborativa que reunisse produtos veganos e ecológicos e pudesse ajudar pequenos negócios a crescer. Depois entendi que fazia mais sentido ir para o [ambiente] digital e comecei a desenvolver a marca. No início fiz tudo sozinho, aprendi a programar e investi R$ 30 mil. Depois entraram três sócios com R$ 33 mil e hoje somos oito sócios no total. A plataforma foi lançada em junho de 2020 e desde o início é também um canal de conteúdo, com receitas e informações. Nosso objetivo é ajudar na formação de opinião sobre consumo sustentável e veganismo, contribuir com alguém que queira mudar um hábito ou reduzir o consumo de carne, por exemplo. Em 2021 começamos a buscar investidores e conseguimos R$ 400 mil de um fundo, e uma segunda rodada de investimentos deve ser feita em breve. Hoje temos 125 marcas na plataforma e a meta é chegar a 300 até o fim do ano. (Débora Melo)

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