Incubadoras e aceleradoras ajudam negócios de impacto a serem mais competitivos

Entidades capacitam empreendedores que buscam respostas para problemas sociais

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São Paulo

Um dos desafios enfrentados por negócios de impacto é contribuir para a resolução de um problema socioambiental e, ao mesmo tempo, gerar lucro. Por isso, incubadoras e aceleradoras têm importante papel no setor, ao capacitar empreendedores e ajudar a estruturar o negócio em diferentes etapas.

A reflexão sobre sustentabilidade financeira é essencial porque empresas de impacto estão inseridas na mesma lógica de mercado que as convencionais e concorrem com seus produtos e serviços, diz Graziella Comini, coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social da USP.

Existem 363 incubadoras e 57 aceleradoras no Brasil, segundo a Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores).

Bruna e Wanda estão sentadas à mesa de um escritório, onde está um notebook e algumas folhas de papel; há também um monitor que mostra um projeto de reforma
Bruna Barbosa (esq.), supervisora de projetos, e Wanda Foresti, sócia-fundadora, no escritório da Arquitetos da Vila, em Belo Horizonte (MG) - Douglas Magno/Folhapress

Guila Calheiros, superintendente-executivo da organização, diz que a diferença entre as duas está na fase do negócio em que cada uma atua: aceleradoras lidam com empresas que faturam, têm clientes e buscam ganhar escala, enquanto incubadoras se dedicam a quem ainda não deu esses passos

Ao procurar programas de incubadoras e aceleradoras, o empresário deve pesquisar o que é oferecido por cada instituição e entender se a fase de desenvolvimento do seu negócio atende aos requisitos necessários, diz Graziella, que também coordena o mestrado em empreendedorismo da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária).

Ela indica o Guia 2.5, mapeamento da aceleradora Quintessa, como fonte de pesquisa de organizações. Para integrar os programas de uma aceleradora ou incubadora, que podem envolver investimento em dinheiro, é preciso consultar editais e, em geral, participar de uma seleção.

Nas acelerações da Artemisia, há aulas que abordam temas comerciais, jurídicos, financeiros e de marketing. São pontos necessários aos empreendedores que, muitas vezes, têm na bagagem uma formação acadêmica —e nem sempre dominam conceitos utilizados no meio, diz Luciano Gurgel, diretor-executivo.

Desde 2005, mais de 650 negócios de impacto foram acelerados pela instituição. Um deles é a Arquitetos da Vila, que faz reformas em imóveis no Aglomerado da Serra, favela na zona sul de Belo Horizonte (MG). Criada em 2019, a empresa recebeu aporte de R$ 10 mil da Artemisia.

O serviço oferecido pode ser financiado ao cliente quando ele tem renda acima de um salário mínimo (R$ 1.212), mas não é cobrado de quem não atinge essa faixa. Nesse caso, instituições filantrópicas arcam com os custos e há prioridade para famílias com idosos ou crianças, pessoas com deficiência e mães solo.

Após a experiência com a Artemisia, os projetos da empresa passaram a englobar não só problemas estruturais, mas também a questão estética. Hoje, a Arquitetos faz em média 15 obras por mês.

"O desejo existe independentemente da renda. A pessoa fica preocupada se o mofo na parede está afetando a saúde do filho, mas também quer um quarto bonito, receber os amigos e fazer uma festa de aniversário em casa", conta a arquiteta Wanda Foresti, 40, sócia-fundadora ao lado do marido, Lucas Jório, 43.

Já na FEA Social, organização formada por alunos da FEA-USP, o braço de incubação funciona desde 2018 e já trabalhou com 16 negócios.

Com apoio dos estudantes, os empreendedores definem o público-alvo, avaliam como a solução proposta pode gerar retorno à empresa e transformação social e, por fim, iniciam o desenvolvimento e os testes no mercado.

A lição mais importante é, no entanto, o aprofundamento na questão social, que deve ser o foco dos empreendedores que querem atuar no setor antes de qualquer definição, diz Bruna Mussoi, 20, diretora da área.

"O negócio social não nasce pela solução. Entenda tudo que puder sobre o beneficiário antes de decidir qual é seu produto ou serviço. Ao mesmo tempo, esteja aberto para mudança."

O programa convida representantes do setor de impacto e de corporações tradicionais para contribuir inclusive com a formação pessoal dos selecionados e incentiva que eles participem de acelerações e outras iniciativas após a incubação.

"Capacitamos empreendedores para tornar o negócio atrativo para investimentos. Esse é o passo final, em que a imersão no setor é maior e há um pouco mais de amadurecimento", diz Marco Silva, 20, presidente da FEA Social. Ele acrescenta que a persistência é importante para lidar com dificuldades do setor.

"O retorno não é igual ao de um negócio tradicional, em geral demora mais tempo. O negócio de impacto trabalha com a solução de problemas sociais e ambientais, áreas que ainda precisam de apoio. E muitas vezes atende comunidades com menos recursos", diz Calheiros, da Anprotec.

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