Inclusão move negócios de impacto social na área de educação

Plataformas querem aprimorar aprendizado de estudantes com deficiência

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São Paulo

Negócios de impacto socioambiental na área de educação estão focando a inclusão e o aprendizado de alunos com deficiência, a partir de experiências pessoais de seus criadores.

Um deles é o Portal Cuca 4.0, destaque do Guia de Recursos Educacionais Digitais, lista com 26 soluções tecnológicas divulgada em abril pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

A empresária Katia Esper Izar Verniano, que criou a plataforma digital de suporte escolar Portal Cuca 4.0
A empresária Katia Esper Izar Verniano, que criou a plataforma digital de suporte escolar Portal Cuca 4.0 - Keiny Andrade/Folhapress

Trata-se de um empreendimento de impacto social criado pela fonoaudióloga Katia Esper, 56. O projeto começou em 2015, mas o formato atual foi lançado em agosto de 2021.

"Incorporei o ‘4.0’ posteriormente. Chamava-se apenas Cuca", diz Katia. A plataforma surgiu como suporte à alfabetização de pessoas com autismo, que, segundo a fonoaudióloga, têm boa interação com equipamentos eletrônicos.

Negócios de impacto que envolvem aplicativos têm um desafio perene: a base tecnológica precisa passar por atualizações constantes, o que exige investimento contínuo.

"Eu tinha um grande sonho, que era deixar esse aplicativo livre [sem pagamento em nenhuma fase], mas tecnologia é algo muito complicado de se manter", diz Katia, que já investiu cerca de R$ 500 mil na plataforma. O retorno dos aportes está a caminho, mas já há resultados educacionais.

Um negócio de impacto precisa ter a intenção de resolver ao menos parte de um problema social ou ambiental e ter a solução como seu objetivo principal, além de, diferentemente de ONGs, mirar o lucro.

O aplicativo surgiu com quatro fases de estímulo à alfabetização e foi sendo aprimorado. Hoje são 17 etapas, e o público-alvo se expandiu.

O Cuca 4.0 passou a atender também crianças que não têm dificuldades de aprendizagem. É possível, por exemplo, pular determinadas atividades para manter os alunos motivados.

Há músicas exclusivas que ajudam a assimilar sílabas mais complexas, além de atividades gráficas, jogos de tabuleiro e outros games com foco na alfabetização.

A monetização é feita por meio de assinaturas, principalmente para escolas e clínicas. As licenças de uso são liberadas para os alunos e pacientes, com valores que variam de acordo com o porte de cada instituição.

Para quem acessa o aplicativo por conta própria, as primeiras quatro fases são gratuitas. A partir daí, há a possibilidade de pagar R$ 39,90 (parcela única) para prosseguir.

A meta de Katia é viabilizar o negócio a ponto de poder oferecer gratuidade plena a quem não tem condição de pagar pelo acesso, e que muitas vezes não encontra estímulos para prosseguir nos estudos.

O Fofuuu, criado pelo casal Tricia Araújo e Bruno Tachinardi, ambos 32, mira um público similar. O aplicativo, que ajuda crianças com dificuldades no processo da fala, foi elaborado a partir de uma experiência pessoal.

Tricia nasceu com lábio leporino —fissura que afeta principalmente a fala— e passou por 15 cirurgias e oito anos de tratamento. A empresária explica que o método era chato e repetitivo.

Na faculdade —Tricia e Bruno se conheceram quando estudavam na Anhembi Morumbi—, o casal desenvolveu o conhecimento tecnológico usado para elaborar a plataforma.

Formado em design de games, Bruno criou um joguinho para uma farmacêutica e viu que isso poderia ser usado no tratamento. Uma das atividades exigia que a criança soprasse no tablet. O microfone reconhecia essa ação e fazia um objeto se mover na tela.

"Esse exercício é muito usado no tratamento de lábio leporino, para aprender a direcionar o ar pela boca, e não pelo nariz", afirma Tricia.

Em 2015, a ideia foi contemplada no Big Festival, concurso que escolhe os melhores jogos do ano. O prêmio, de R$ 20 mil, foi utilizado em uma viagem e na contratação de assessoria de imprensa, mas ainda não havia um aplicativo pronto para ser apresentado.

"Sempre fomos focados em produtos, tivemos que aprender muito sobre a parte dos negócios", afirma Tricia. "Não sabíamos como viver disso."

O casal, então, viu que precisava elaborar um plano. O CNPJ foi aberto em 2016 e, no ano seguinte, veio o primeiro investimento. O projeto-piloto foi lançado em 2018 —a partir daí, surgiram novas ideias.

O trabalho em conjunto com terapeutas aprimorou a plataforma. Em 2019, foi criada a área de educação, voltada para complementar o processo de aprendizagem, com capital vindo do programa de aceleração da Samsung. De acordo com os criadores, R$ 1,5 milhão já foi desembolsado na plataforma.

Hoje o Fofuuu atende também pessoas com autismo e síndrome de Down. "Descobrimos uma série de necessidades cognitivas e motoras, há uma escala até chegar em um processo de fala", diz Tricia.

A receita vem da assinatura do programa. Cada licença adquirida por um terapeuta dá direito a 30 acessos para seus pacientes. Pais também podem adquirir o aplicativo para os filhos. "Estamos focando no desenvolvimento do negócio, é necessário sempre adicionar novos atrativos para as crianças", diz Tricia.

Atualmente, os empresários negociam com uma grande instituição, que deve trazer mais possibilidades ao Fofuuu. Um dos caminhos é o uso para o ensino de idiomas.

Enquanto essas plataformas educacionais promovem o aprendizado de pessoas com algum tipo de deficiência, a aTip atende à demanda de inclusão em empresas.

A ideia original era a de uma plataforma que acompanhasse a evolução da criança com autismo. Com o passar do tempo, a empresa percebeu que tinha um potencial maior de impacto.

"Consolidamos a aTip como uma startup que atua no elo de ligação entre profissionais autistas e empresas, a fim de garantir inclusão, inovação e acolhimento", afirma Caio Bogos, 26, diretor-executivo e fundador da empresa.

As empresas investem para que a aTip possa ajudá-las no programa de inclusão, chamado Jornada aTípica. As etapas incluem diagnóstico do ambiente da companhia, fórum dedicado para tirar dúvidas e relatórios de engajamento dos funcionários, entre outros processos.

"Após a contratação das pessoas autistas, há um investimento no acompanhamento tanto da empresa quanto dos contratados", afirma Caio.

"Como a Jornada é bastante completa, conseguimos fazê-la de forma modular conforme a necessidade de cada empresa, pois entendemos que as organizações podem estar em momentos diferentes."

Além de conectar candidatos e companhias, a plataforma oferece cursos profissionalizantes na área de tecnologia.

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