Fabiane Omerod, 47, dá cursos online de astrologia, algo que uma década atrás não via como opção profissional. A carioca é formada em farmácia e bioquímica e fez carreira em uma grande multinacional farmacêutica.
Só quando saiu da empresa onde trabalhava, em 2016, que teve a ideia de vender os dois conhecimentos que acreditava ter —seu know-how em marketing e vendas e sua experiência em astrologia, fruto de uma paixão cultivada desde a adolescência.
Fabiane passou a oferecer consultoria para empreendedores e criou um curso sobre o assunto, mas teve só duas alunas. Ela seguiu com a consultoria e acabou desistindo das aulas esotéricas.
Quando seu marido foi transferido para a Nova Zelândia, passou a desenvolver formações na área de negócios, a distância. Em 2019, porém, ela viu crescer a demanda por leituras de mapa astral.
Foi aí, em 2020, que Fabiane resolveu dar uma segunda chance ao curso de astrologia, dessa vez no formato online e com a parceria de um coprodutor com experiência em tráfego digital e em anúncios para redes sociais.
Hoje, ela oferece também turmas de mentoria, um curso de estudos avançados e workshops.
Nesses dois anos, a empresária conta que teve mais de 700 alunos e faturou, juntamente com seu parceiro comercial, cerca de R$ 500 mil.
Depois da pandemia, percebe que os alunos estão mais ansiosos por um contato intimista e acredita que o futuro está em cursos individualizados e mentorias. É neles que tem investido agora.
Apesar do sucesso, não pretende mais oferecer aulas no modelo atual, que custa entre R$ 997 e R$ 1297 e dá acesso a 18 horas de conteúdo base, 58 horas de workshops de conhecimentos específicos e nove encontros online ao vivo.
A mestre de reiki gaúcha Mirta Gomes, 71, também acredita que clientes têm buscado um contato mais pessoal nos atendimentos de reiki e acupuntura.
Ela chegou a comandar mais de 20 terapeutas que realizavam 200 atendimentos semanais em um instituto no Rio de Janeiro. Hoje foca cursos e, cada vez mais, mentorias, que lhe permitem manter receita e diminuir carga de trabalho.
Apesar de a formação de profissionais responder por cerca de 60% de sua receita mensal, que varia entre R$ 6.000 e R$ 7.000, conta que as consultas individuais ainda fazem parte da rotina.
"Não dou aulas todos os dias, apenas programadas com antecedência," diz. Seus cursos são sempre ao vivo, sejam eles online ou presenciais.
Mirta também veio do mundo corporativo. É formada em contabilidade e administração e tem experiência no mercado de capitais. Aos 45, fez um curso de medicina chinesa e desde então não largou as terapias holísticas.
A paulistana Maria Angélica Abramo, ou Maria Ábramo, 61, como passou a assinar por indicação de uma numeróloga, também deixou uma carreira estabelecida como assessora de imprensa para se dedicar a ensinos esotéricos.
Navegou por diferentes técnicas até se apaixonar pela aromaterapia. "Estudar óleos essenciais sempre foi um hobby para mim, mas não via como profissão," conta.
Maria, que tem o curso de aromaterapia como carro-chefe, oferece também workshops pontuais. As aulas presenciais ocorrem uma vez por ano e reúnem de 18 a 20 alunos. O curso de aromaterapia essencial, de 180 horas, custa entre R$ 600 e R$ 1.200.
Verônica Marques, que é professora e coordenadora do núcleo de empreendedorismo e inovação da ESPM-Rio, lembra que o fato de um negócio ser visto por muitos como não convencional não exime o empreendedor de pensar nele e o estruturar de maneira tradicional.
Isso exige que o profissional avalie sua proposta de valor, suas atividades principais, os recursos que vão ser usados, o valor de seu saber específico e de sua reputação.
Os profissionais devem pensar em que tipo de experiência autêntica podem oferecer para o cliente. É importante se diferenciar dos demais. Se ele não for diferente, não vai crescer.
A venda de cursos, principal fonte de renda de Maria, gera incertezas. "Há meses em que entram R$ 4.000 e outros em que não ganho nada," diz.
A crise econômica e a pandemia, acredita, mudaram o cenário. "As pessoas tinham um poder aquisitivo que permitia que fizessem um curso por prazer. Hoje isso mudou e minha renda caiu." Num mês de 2018, a empresária conta que chegou a ganhar R$ 14 mil.
Ela também acredita que o cenário esteja pior por conta da concorrência. "Tem muita gente promovendo usos perigosos, inclusive de óleos essenciais para crianças," diz, lembrando que esses produtos não devem ser ingeridos.
Natural de Ilhabela (no litoral paulista), Jonas França, 28, mestre em ciências políticas, também é um profundo estudioso do tarô. Ele ministra cursos sobre as cartas.
Duas de suas 6 turmas finalizadas acabaram nesse inverno e tinham 35 alunos cada uma. Eles pagaram R$ 800 por cada um dos dois módulos do programa.
Apesar de ver o número de interessados nos cursos crescer, Jonas também trabalha cada vez mais com mentorias. Além disso, oferece workshops, cujas entradas custam entre R$ 50 e R$ 150.
"Por mais que menosprezados enquanto áreas do conhecimento, estudos vistos como esotéricos também estão sujeitos a um certo rigor e a uma ética profissional", diz.
Para Martinho de Almeida, professor da FEA-USP (Faculdade de Administração e Economia da Universidade de São Paulo), o melhor caminho para quem começa no mercado de cursos online é abrir uma MEI, que possibilita ao empresário dar recibos, assinar contratos e tomar empréstimo nos bancos.
O primeiro passo para isso é procurar um contador, que também pode dar conselhos sobre os impostos a serem pagos pelo profissional.
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