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Mercado de games cresce no país e atrai cada vez mais empreendedores

Expansão abre possibilidades para pequenos negócios, mas ainda faltam investimentos no setor

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São Paulo

Nos últimos anos, o segmento de games vem crescendo de modo expressivo no país. Com isso, têm surgido mais oportunidades para pequenos negócios nessa área.

Quando cursava audiovisual, no começo dos anos 2000, o roteirista Lipe Trezza, 40, não imaginava que seu interesse por videogames pudesse se tornar um trabalho. Mas, ao ver a expansão do setor, ele decidiu abrir, em 2019, a Black Moluska Games.

Homem está sentado em frente ao computador. Ao lado dele, há um celular ligado
Lippe Trezza é roteirista e decidiu investir no mercado de jogos depois que percebeu que a área está aquecida - (Zanone Fraissat/Folhapress)

"O mercado está muito aquecido. Consigo fazer o que amo, que é contar histórias, só que com mais autonomia", afirma.

O primeiro jogo da empresa, chamado "Wish Us Luck", será lançado ainda neste ano, para plataformas móveis (celulares e tablets) e teve apenas três pessoas na equipe de desenvolvimento, incluindo Lipe. Ele ainda não sabe quanto o game irá custar.

Em 2014, havia 133 desenvolvedoras de jogos no país, número que saltou para 1.009 oito anos depois. Os dados são de um levantamento da Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos) em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

Segundo a pesquisa, 509 jogos foram desenvolvidos em 2020, número que cresceu para 643 no ano seguinte. Estima-se que as desenvolvedoras empreguem cerca de 12,4 mil pessoas no país.

"O ato de jogar está cada vez mais comum entre brasileiros porque hoje não há mais a restrição de um único dispositivo, como era o caso do videogame nos anos 1990", diz Carlos Silva, sócio da Go Gamers, consultoria especializada no mercado de games.

Silva explica que o smartphone democratizou o acesso aos games por representar uma alternativa aos consoles, equipamentos que ainda são caros no país. "Foi o grande carro-chefe da popularização dos jogos não só no Brasil, mas no mundo inteiro", afirma ele.

Mercado de jogos em números

  • 74,5% dos brasileiros jogam jogos eletrônicos

  • 51% dos jogadores são mulheres

  • US$ 2,3 bi foi o valor que o mercado de jogos movimentou no Brasil em 2021

  • $196,8 bi é a estimativa de quanto o mercado movimentará no mundo em 2022

Estimativas da consultoria Newzoo indicam que neste ano o setor deve gerar no mundo todo quase US$ 197 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão).

Em 2021, o segmento de games movimentou cerca de US$ 2,3 bilhões (R$ 11,8 bilhões) no Brasil, fazendo do país o maior mercado da América Latina e o 12º do mundo.

Para especialistas, o Brasil tem capacidade para se tornar liderança mundial no ramo. Eles dizem, porém, que é preciso haver investimento público para isso acontecer.

"O mercado de games no Brasil cresceu a despeito do governo, com o empresário colocando dinheiro do próprio bolso. Para escalonar, é preciso que haja um investimento contínuo nessa área", afirma Rodrigo Terra, presidente da Abragames.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem diminuído de forma periódica a cobrança do imposto de importação sobre videogames e acessórios.

Em junho, ele anunciou que reduziria de 16% para 12% as alíquotas incidentes sobre esses produtos. Essa foi a quarta vez que o governo fez algum tipo de desoneração tributária para o mercado de games.

Terra diz que o fomento público é importante principalmente para as pequenas e médias empresas. "Existem iniciativas esporádicas, mas a gente precisa de uma política de fomento mais continuada."

Homem segura aparelho eletrônico. Na tela, é possível ver um desenho
Lipe Trezza mostra o jogo "Wish Us Luck", que ele desenvolveu após ganhar um edital da SPCine - (Zanone Fraissat/Folhapress)


Foi graças a uma dessas iniciativas que Lipe Trezza conseguiu entrar no mercado. O roteirista venceu um edital da ANCINE (Agência Nacional do Cinema) e captou R$ 250 mil para desenvolver um jogo de celular. "A nossa vontade é buscar outras fontes de financiamento, mas o edital foi muito importante."

Segundo Terra, outro desafio são os problemas alfandegários. O especialista diz que um equipamento pode ficar meses retido na Receita Federal por problemas na hora da importação."Isso gera desinteresse dos investidores internacionais por causa das dificuldades de trafegar com artigos tecnológicos no país."

Vinnicius Rodrigo, 20, conhece as dificuldades de atrair investidores. Em 2019, ele ajudou a fundar a Somos Cordel para desenvolver aplicativos e plataformas gamificadas.

"Sinto que temos muita dificuldade pelo fato de os investidores estarem concentrados no Sul e no Sudeste", diz ele, que mora no Recife.

Segundo dados da Abragames, 57% dos estúdios estão no Sudeste e 21%, no Sul. O Nordeste aparece logo depois, com 14%.

"O Brasil é o maior mercado da América Latina, mas a gente consome muita coisa de fora. As pessoas acabam não valorizando as produções locais", diz o empresário.

Apesar dos desafios, o setor é acessível ao pequeno empreendedor, mas é preciso estudar antes de se lançar nele, afirma Igor La Luz, gerente acadêmico da Saga, escola de desenvolvimento de games.

Ele diz ser importante construir uma rede de contatos com outros profissionais, o que pode ser feito por meio de feiras, como a Brasil Game Show, considerada a maior da América Latina. "Muitos desses eventos geram encontros com investidores e rodadas de negócio."

Além da preparação, é preciso saber abrir mão de uma ideia que não está funcionando. "Tem que ter esse desprendimento. Se deu certo, ótimo. Se não, joga fora e começa de novo", diz Fernanda Lobão, diretora-executiva da Final Level, empresa que investe em entretenimento gamer. "Aquilo em que você acredita pode não dar ce rto. Acontece. Por isso, é importante reagir rápido."

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