À frente de novas empresas, mulheres são as responsáveis por transformar o mercado erótico nos últimos anos, criando produtos e serviços voltados ao prazer feminino com foco no bem-estar.
Agora, a mesma ideia começa a ganhar espaço com soluções voltadas a homens. Segundo o portal Mercado Erótico, o faturamento do setor ultrapassou R$ 2 bilhões no Brasil em 2020.
Um levantamento do site, feito entre março e maio de 2020 com 350 lojistas de sex shop, aponta que a categoria de vibradores teve um aumento de 50% nas vendas em relação ao ano anterior, sendo mulheres casadas de entre 25 e 35 anos as que mais procuraram o item.
A pesquisa também mostra que 65% dos consumidores de produtos eróticos são mulheres.
Antes de criar o Muito Prazer.Club, em janeiro deste ano, Tâmara Wink, 40, consultou um grupo que reunia 160 clientes em potencial e percebeu um desconforto delas com a forma que os produtos eram vendidos na maioria das sex shops.
A empresária, então, decidiu selecionar itens com ênfase no bem-estar sexual feminino e vendê-los em um formato de clube de assinaturas.
O serviço, diz Tâmara, conta com a participação de mulheres desde a concepção dos produtos até a comunicação. Cosméticos voltados a higiene e hidratação da região íntima, por exemplo, vêm em embalagens sem cores ou imagens que remetam à sexualização do corpo feminino.
Além disso, boa parte dos itens vendidos pela Muito Prazer são pensados para ajudar mulheres a lidar com a questão conhecida como gap de orgasmo —o fato de que elas chegam menos ao clímax nas relações do que os homens.
A assinante do Muito Prazer.Club recebe todo mês caixas que incluem vibradores, lubrificantes, livros e até pedras aromáticas para o banho.
"A caixa tem a intenção de ser um estímulo à sexualidade. Temos assinantes que nunca haviam experimentado se masturbar", diz Tâmara.
O clube tem clientes em todas as regiões do país, que pagam de R$ 69,90 a R$ 149 por mês. Em setembro, os produtos escolhidos focam o sexo como questão de saúde.
"Vemos tendências lá fora, acompanhamos o mercado das sextechs e femtechs [startups focadas em sexo e nas questões femininas]. E, então, procuramos quem faz [algo semelhante] no Brasil", explica Tâmara.
Para a empresária, a oferta de mercadorias tem aumentado em geral para cosméticos, velas, géis e acessórios, mas ainda existem poucos sex toys de boa qualidade produzidos nacionalmente.
Lídia Cabral, criadora da Tech4Sex, plataforma de conteúdo e pesquisa de tendências e inovações para a sexualidade, explica que boa parte da indústria de produtos eróticos está concentrada na China.
"Há hoje um cuidado das empresas com a experiência. Muitas marcas pensam a jornada do consumidor, mas também é importante conhecer mais sobre a produção, em geral terceirizada", diz ela.
A Pantynova foi pioneira nesse mercado e começou a desenvolver os próprios vibradores em 2018. Hoje são 15 modelos que acompanham informações detalhadas de uso para suprir possíveis dúvidas na hora da compra —como escala que vai de 0 a 10 para estimulação clitoriana.
Acelerada pelo Scale-Up Consumer Goods, da Endeavor, rede global que reúne empreendedores, a marca de São Paulo vende seus produtos em um ecommerce. Teve cerca de 100 mil clientes e faturou R$ 12 milhões em 2021.
A empresa prevê crescer 20% em 2022 e dobrar o faturamento atual em 2024. Segundo a fundadora Izabela Starling, 36, além de investir em parcerias com influenciadores e na produção de conteúdo, a estratégia é mirar em novos públicos, inclusive homens heterossexuais.
A empresa deve lançar até o fim do ano um masturbador masculino chamado UFO, e o marketing, até então focado em mulheres, bissexuais e pessoas de gênero fluido, agora vai abarcar produtos voltados ao órgão sexual masculino —sejam clientes homens cis, gays ou mulheres transexuais.
Cabral enxerga um mercado crescente de bem-estar sexual voltado para os homens e bons exemplos disso no exterior.
Nos Estados Unidos, a empresa Myhixel desenvolveu um masturbador conectado a um app que auxilia pessoas com ejaculação precoce. Também lá, a Morari Medical criou outra solução com o mesmo propósito, uma espécie de adesivo que funciona conectado a um programa de celular.
No Brasil, há uma plataforma chamada Omens que oferece serviços de urologia e psicologia para tratar disfunções sexuais. "Há espaço tanto para saúde quanto para educação sexual, que também ajuda a desconstruir o conceito de masculinidade tóxica", diz Cabral, da Tech4Sex.
Repaginado com o nome de mercado de bem-estar sexual, o setor erótico agora se associou a pautas de saúde e autocuidado.
Até 2027, esse setor deve alcançar a cifra de US$ 108 bilhões (R$ 567 bilhões) no mundo, de acordo com projeções da Allied Market Research. Um crescimento de quase 40% frente aos US$ 78 bilhões (R$ 409,5 bilhões) de 2020.
Grandes varejistas também já apostam no segmento. Hoje, as 20 marcas de bem-estar sexual comercializadas pela Amaro representam quase 10% das vendas do segmento de beleza do grupo.
Já a Magalu lançou em outubro de 2021 a categoria de bem-estar sexual em suas plataformas e colocou um time de especialistas para o atendimento aos clientes no pós-venda. A intenção é que os consumidores possam tirar dúvidas sobre os produtos.
Nos dois casos, os itens são comercializados em sistema de marketplaces, oferecendo produtos vendidos e entregues por outras empresas, muitas delas pequenas.
Para Cabral, da Tech4Sex, pode ser uma oportunidade de ganhar visibilidade em um mercado em expansão. Mas é necessário observar quais condições o varejista oferece, entre elas as taxas cobradas.
A pandemia deu um impulso para o amadurecimento do setor, segundo ela, mas há ainda muito espaço para inovações que não passam necessariamente por produtos e lojas.
"O metaverso, as realidades virtual e ampliada e a tecnologia vestível têm muito potencial e podem ser explorados na sexualidade remota. Nos ambientes virtuais as pessoas podem viver experiências que não se permitiriam antes".
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