Mulheres ajudam a impulsionar mercado erótico e renovam setor

Serviços e produtos focados em bem-estar são tendência e começam a ganhar o consumidor masculino

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Denise Meira do Amaral Roberto Saraiva
São Paulo

À frente de novas empresas, mulheres são as responsáveis por transformar o mercado erótico nos últimos anos, criando produtos e serviços voltados ao prazer feminino com foco no bem-estar.

Agora, a mesma ideia começa a ganhar espaço com soluções voltadas a homens. Segundo o portal Mercado Erótico, o faturamento do setor ultrapassou R$ 2 bilhões no Brasil em 2020.

Izabela Starling (à esq.) e Heloisa Etelvina seguram vibradores no depósito da Pantynova, no centro de São Paulo
Izabela Starling (à esq.) e Heloisa Etelvina seguram vibradores no depósito da Pantynova, no centro de São Paulo - Jardiel Carvalho/Folhapress

Um levantamento do site, feito entre março e maio de 2020 com 350 lojistas de sex shop, aponta que a categoria de vibradores teve um aumento de 50% nas vendas em relação ao ano anterior, sendo mulheres casadas de entre 25 e 35 anos as que mais procuraram o item.

A pesquisa também mostra que 65% dos consumidores de produtos eróticos são mulheres.

Antes de criar o Muito Prazer.Club, em janeiro deste ano, Tâmara Wink, 40, consultou um grupo que reunia 160 clientes em potencial e percebeu um desconforto delas com a forma que os produtos eram vendidos na maioria das sex shops.

A empresária, então, decidiu selecionar itens com ênfase no bem-estar sexual feminino e vendê-los em um formato de clube de assinaturas.

O serviço, diz Tâmara, conta com a participação de mulheres desde a concepção dos produtos até a comunicação. Cosméticos voltados a higiene e hidratação da região íntima, por exemplo, vêm em embalagens sem cores ou imagens que remetam à sexualização do corpo feminino.

Além disso, boa parte dos itens vendidos pela Muito Prazer são pensados para ajudar mulheres a lidar com a questão conhecida como gap de orgasmo —o fato de que elas chegam menos ao clímax nas relações do que os homens.

A assinante do Muito Prazer.Club recebe todo mês caixas que incluem vibradores, lubrificantes, livros e até pedras aromáticas para o banho.

"A caixa tem a intenção de ser um estímulo à sexualidade. Temos assinantes que nunca haviam experimentado se masturbar", diz Tâmara.

O clube tem clientes em todas as regiões do país, que pagam de R$ 69,90 a R$ 149 por mês. Em setembro, os produtos escolhidos focam o sexo como questão de saúde.

"Vemos tendências lá fora, acompanhamos o mercado das sextechs e femtechs [startups focadas em sexo e nas questões femininas]. E, então, procuramos quem faz [algo semelhante] no Brasil", explica Tâmara.

Para a empresária, a oferta de mercadorias tem aumentado em geral para cosméticos, velas, géis e acessórios, mas ainda existem poucos sex toys de boa qualidade produzidos nacionalmente.

Lídia Cabral, criadora da Tech4Sex, plataforma de conteúdo e pesquisa de tendências e inovações para a sexualidade, explica que boa parte da indústria de produtos eróticos está concentrada na China.

Ilustração de Luciano Veronezi mostra uma mulher nua deitada em uma cama em meio a dois travesseiros e com lençóis amarrotados cobrindo seu corpo da cintura pra baixo. Seus braços estão entrelaçados abraçando o próprio corpo, ela está com os olhos fechados e um leve sorriso. Da parte inferior na sua cintura estão saindo flores de várias formas com cifrões no meio das pétalas.
Ilustração de Luciano Veronezi, que mostra uma mulher nua deitada em uma cama envolta por flores com cifrões no meio das pétalas - Editoria de arte/Folhapress

"Há hoje um cuidado das empresas com a experiência. Muitas marcas pensam a jornada do consumidor, mas também é importante conhecer mais sobre a produção, em geral terceirizada", diz ela.

A Pantynova foi pioneira nesse mercado e começou a desenvolver os próprios vibradores em 2018. Hoje são 15 modelos que acompanham informações detalhadas de uso para suprir possíveis dúvidas na hora da compra —como escala que vai de 0 a 10 para estimulação clitoriana.

Acelerada pelo Scale-Up Consumer Goods, da Endeavor, rede global que reúne empreendedores, a marca de São Paulo vende seus produtos em um ecommerce. Teve cerca de 100 mil clientes e faturou R$ 12 milhões em 2021.

A empresa prevê crescer 20% em 2022 e dobrar o faturamento atual em 2024. Segundo a fundadora Izabela Starling, 36, além de investir em parcerias com influenciadores e na produção de conteúdo, a estratégia é mirar em novos públicos, inclusive homens heterossexuais.

A empresa deve lançar até o fim do ano um masturbador masculino chamado UFO, e o marketing, até então focado em mulheres, bissexuais e pessoas de gênero fluido, agora vai abarcar produtos voltados ao órgão sexual masculino —sejam clientes homens cis, gays ou mulheres transexuais.

Cabral enxerga um mercado crescente de bem-estar sexual voltado para os homens e bons exemplos disso no exterior.

Nos Estados Unidos, a empresa Myhixel desenvolveu um masturbador conectado a um app que auxilia pessoas com ejaculação precoce. Também lá, a Morari Medical criou outra solução com o mesmo propósito, uma espécie de adesivo que funciona conectado a um programa de celular.

No Brasil, há uma plataforma chamada Omens que oferece serviços de urologia e psicologia para tratar disfunções sexuais. "Há espaço tanto para saúde quanto para educação sexual, que também ajuda a desconstruir o conceito de masculinidade tóxica", diz Cabral, da Tech4Sex.

Repaginado com o nome de mercado de bem-estar sexual, o setor erótico agora se associou a pautas de saúde e autocuidado.

Até 2027, esse setor deve alcançar a cifra de US$ 108 bilhões (R$ 567 bilhões) no mundo, de acordo com projeções da Allied Market Research. Um crescimento de quase 40% frente aos US$ 78 bilhões (R$ 409,5 bilhões) de 2020.

Grandes varejistas também já apostam no segmento. Hoje, as 20 marcas de bem-estar sexual comercializadas pela Amaro representam quase 10% das vendas do segmento de beleza do grupo.

Já a Magalu lançou em outubro de 2021 a categoria de bem-estar sexual em suas plataformas e colocou um time de especialistas para o atendimento aos clientes no pós-venda. A intenção é que os consumidores possam tirar dúvidas sobre os produtos.

Nos dois casos, os itens são comercializados em sistema de marketplaces, oferecendo produtos vendidos e entregues por outras empresas, muitas delas pequenas.

Para Cabral, da Tech4Sex, pode ser uma oportunidade de ganhar visibilidade em um mercado em expansão. Mas é necessário observar quais condições o varejista oferece, entre elas as taxas cobradas.

A pandemia deu um impulso para o amadurecimento do setor, segundo ela, mas há ainda muito espaço para inovações que não passam necessariamente por produtos e lojas.

"O metaverso, as realidades virtual e ampliada e a tecnologia vestível têm muito potencial e podem ser explorados na sexualidade remota. Nos ambientes virtuais as pessoas podem viver experiências que não se permitiriam antes".

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