Sommelier vira peça central de bares com consumo de vinho por taça

Em bares de cerveja e vinho, experimentação, combinação de sabores e troca de conhecimento conquistam clientes

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Campinas

Nos wine bars, onde clientes consomem a bebida pagando por taça, um dos destaques é a figura do sommelier, já que o foco são a experimentação e as combinações de sabores. Tudo isso com troca de conhecimento.

Na foto, pessoa segura taça de vinho próximo à torneira do enomatic para que sua dose seja servida
O Bardega tem quase 100 opções de vinho para experimentar; no ambiente, a figura do sommelier é importante para guiar o cliente em sua escolha - Lucas Seixas/Folhapress

Os vinhos deixaram o lugar de acompanhamento de pratos para ocupar o protagonismo, afirma Arthur Piccolomini de Azevedo, vice-presidente da ABS-SP (Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo).

"Existe hoje uma busca grande por conhecimento de vinho e o wine bar atende esse público ávido por novidades, por provar e degustar diversos tipos. Essa é uma maneira, inclusive, de economizar, porque você prova o vinho e, se não gostou, não compra", diz.

Segundo ele, a oferta de vinhos por doses —geralmente de 30 ml, 60 ml ou 120 ml— deve ser acompanhado por um sommelier, que vai apresentar e explicar características como acidez, nível de açúcar e aspectos históricos e culturais. "Ajuda a não só se divertir, mas também a ganhar conhecimento".

O especialista ofereceu consultoria durante a construção do Bardega, um dos maiores wine bars de São Paulo, localizado no Itaim Bibi, na zona oeste da capital. O estabelecimento oferece 96 tipos da bebida de todas as faixas de preço, com doses a partir de R$ 5. O mais caro deles é o português Pera Manca, cuja taça de 30 ml custa R$ 191.

O bar é composto por 12 enomatics, equipamentos que permitem ao cliente servir o vinho sozinho e conservam a bebida por mais tempo. Trata-se de uma espécie de vitrine, onde as garrafas ficam enfileiradas e refrigeradas por meio de um sistema de preservação a nitrogênio. No caso do bar, cada um deles comporta oito rótulos.

As bicas medem e liberam a quantidade de bebida a partir da inserção de cartão com chip, identificado por cliente, e da escolha da dose. Segundo Rafael Ilan, 35, dono do negócio, cada máquina italiana usada no bar custa em média R$ 75 mil.

A proposta é que os clientes circulem pelo ambiente, conversem com os sommeliers do espaço e tenham uma experiência dinâmica. Para isso, o bar conta com ambientes sem cadeira, mesas em áreas cobertas e descobertas, além do corredor com as máquinas.

O bar ainda oferece combos de comida com três opções de vinho para harmonizar.

O próprio Ilan faz o contato com fornecedores e define os rótulos que entram e saem. Segundo ele, há uma preocupação em manter opções mais baratas, para que se possa experimentar mais de um tipo, e grifes, que ficam mais acessíveis com o valor cobrado pela taça.

O bar recebeu 60 mil pessoas em 2021, com faturamento bruto de R$ 5,6 milhões. Segundo o empreendedor, o tíquete médio é de R$ 200.

Cervejarias abrem bares para degustação de rótulos próprios

Localizado na Vila Clementino, na zona sul de São Paulo, o Esconderijo Juan Caloto foi inaugurado no início de 2021 por quatro amigos para ser uma vitrine da cervejaria de mesmo nome.

Foto mostra torneiras de chope e cinco copos à frente, cada um correspondente ao tipo de cerveja disponível na torneira
O Esconderijo Juan Caloto foi criado por quatro sócios para expor e vender as cervejas de produçaõ própria da marca; o lugar tem um ar de faroeste, com decoração vitage e elementos que constroem a experiência dos clientes - Lucas Seixas/Folhapress

Embora já tivessem contratos de distribuição do produto com bares e supermercados, os sócios sentiam falta de um lugar com a cara da marca, cuja principal característica são as histórias no estilo faroeste.

"A ideia era o bar parecer uma casa abandonada invadida pelo bando do Juan Caloto [personagem fictício], que foi trazendo coisas para o abrigo", diz Felipe Gumiero, 37, responsável pela gestão.

Os empresários garimparam itens como um piano centenário, sofás e cadeiras antigos em ferros velhos, leilões e vendas de garagem para compor o ambiente.

O bar tem oito torneiras, cada uma com um estilo de bebida. A cervejaria, administrada como um empreendimento à parte, lança de dois a três tipos de cerveja por mês. Já no tap bar (referência às torneiras), a mudança acontece em intervalos de 7 a 15 dias, de acordo com a disponibilidade de barris e saída de cada rótulo.

Para Estácio Rodrigues, sócio-fundador do Instituto de Cerveja Brasil e especialista neste mercado, espaços com essa proposta precisam conhecer o perfil do cliente. A partir daí, o empreendedor pode escolher os tipos de bebida a serem oferecidos, quantidade de torneiras e rotatividade de estilos.

O bar ainda tem 30 coquetéis, divididos entre clássicos, autorais e sazonais. Para seguir a temática velho oeste, a clássica batata frita está fora do cardápio de comidas, que mira a harmonização das cervejas com sanduíches frios, conservas e carnes curadas.

Para Rodrigues, no caso dos tap bars, as opções de petiscos devem ser definidas a partir da carta de bebidas e um especialista deve estar disponível para falar sobre as combinações. "Quando você começa a explicar os sabores e aromas, a curiosidade começa a aumentar. Isso vira uma forma de entretenimento também", diz.

O estabelecimento tem capacidade para cerca de 60 pessoas. Em uma semana, os empreendedores dizem atender uma média de 150 clientes, com tíquete médio de R$ 90.

Com mais torneiras e um perfil de público diferente, a Cervejaria Campinas começou a operar no interior paulista em 2017, também para vender a produção da marca de mesmo nome. Segundo Ladir Almada Neto, 37, um dos donos, a empresa já era consolidada na época, e o bar logo atraiu os clientes.

Cada uma das três unidades, todas na mesma cidade, tem 20 torneiras de chope e 17 tipos de cerveja. Para atender o público mais rápido, os sabores com mais saída têm mais de uma válvula. Na unidade do Taquaral, bairro central da cidade e um dos centros gastronômicos, Neto calcula um faturamento bruto mensal de R$ 150 mil.


Folha abre canal para receber dúvidas sobre empreendedorismo

A Folha passou a disponibilizar um canal para receber dúvidas de leitores sobre empreendedorismo. As mensagens devem ser enviadas para mpme@grupofolha.com.br ou para este formulário.

A equipe da seção MPME, que produz reportagens sobre micro, pequenos e médios empreendedores, selecionará algumas delas para serem respondidas por especialistas na área.


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