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Abstenção no Irã contraria posição inicial de Dilma
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CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
A resolução contra o Irã em que o Brasil se absteve há quatro dias, na Terceira Comissão da Assembleia Geral da ONU, é quase igual à que também teve a abstenção brasileira em 2010 --quando a presidente Dilma Rousseff, então recém-eleita, disse ao "Washington Post" que discordava da posição adotada.
Como em 2010, a resolução atual menciona, entre 16 acusações de violações dos direitos humanos, penas de apedrejamento e discriminação contra as mulheres "na lei e na prática".
As únicas novidades são uma menção à prisão dos opositores que participaram do pleito presidencial de 2009 e um apelo por eleições parlamentares "livres e transparentes" em 2012.
No ano passado, no entanto, estava no auge a campanha em favor de Sakineh Ashtiani, a iraniana acusada de tramar a morte do marido e cuja condenação à morte por apedrejamento, depois revista para enforcamento, está suspensa.
Na época, autoridades do governo de Luiz Inácio Lula da Silva avaliaram que Dilma entendeu, incorretamente, que a resolução na Terceira Comissão era uma resposta específica a esse caso. Mas a presidente nunca recuou da declaração ao "Post".
A ONG de direitos humanos Conectas, que acompanha as votações na ONU, aponta, por isso, "incoerência" na abstenção agora. O grupo pede que o Brasil mude de posição quando a mesma resolução for votada no plenário da Assembleia Geral, em dezembro.
O Itamaraty não deu detalhes da conversa com Dilma sobre a abstenção. Mas seu porta-voz, Tovar Nunes, reiterou que todas as decisões relevantes são tomadas em consulta com ela. "A presidente dita a política externa."
Em sua justificativa de voto, o Brasil criticou o Irã, mas disse que a resolução, apresentada pelo Canadá, era desequilibrada. "Os proponentes não aceitaram elementos que pudessem equilibrar o texto. Não queremos estimular a politização desse tema", disse Tovar.
Ele repetiu que o Brasil considera que o fórum adequado para tratar de denúncias de violações contra governos é o Conselho de Direitos Humanos, no qual, em março, o país apoiou a nomeação de um relator especial para o Irã.
Na Terceira Comissão, o Itamaraty se absteve neste ano na moção contra Mianmar, mas votou contra a Síria, com o argumento de que se trata de um caso flagrante, dado o acúmulo de mortes desde o início dos protestos contra o regime de Bashar Assad.
Outras fontes do governo avaliam que a abstenção na votação contra o Irã foi influenciada pela percepção de que está em curso um novo cerco contra Teerã, com o risco de resultar em guerra na região.
Nos últimos dois meses, o Irã foi acusado pelos EUA de estar por trás de um complô para assassinar o embaixador saudita em Washington e alvo de um relatório da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) que o acusa de pesquisar a construção de uma bomba.
Na junta de governadores da AIEA, o Brasil votou a favor da moção que instou o Irã a esclarecer as dúvidas da agência, mas apenas depois que o texto foi abrandado por pressões da Rússia e da China.
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