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09/05/2012 - 20h44

Estatizações acabam sendo ineficientes, diz especialista em energia

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JULIA BORBA
DE BRASÍLIA

Estatizações de empresas de energia, como as feitas na Argentina e Bolívia, são anunciadas "com muito alarde", mas acabam sendo ineficientes. A análise é do responsável da Agência Internacional de Energia (IEA) para a América Latina e o Caribe, Joerg Husar, em entrevista à Folha.

Na visão dele, as companhias petrolíferas nacionais tendem a investir pouco no desenvolvimento a longo prazo e a fazer má gestão dos recursos.

Segundo Husar, os países que fizeram as expropriações devem amargar uma redução dos investimentos estrangeiros durante os próximos anos. O Brasil não deve sentir os reflexo dessas medidas.

A IEA é uma organização autônoma, com sede em Paris, fundada em 1974 com a crise do petróleo. Dedicada a servir como fonte de informação, estatísticas e como conselheira política dos 28 países membros.

Husar foi pesquisador do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP) e professor do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Freie Universität Berlin.

*

Folha - Como a IEA avalia as expropriações realizadas na Argentina e na Bolívia?

Joerg Husar - Estamos bastante preocupados com a nacionalização da YPF na Argentina. A decisão mandou sinal negativo para os investidores. Isso vai afetar a imagem do país como destino para investimentos em energia por anos.

O mesmo se aplica ao caso da Bolívia. Em ambas as situações, o montante a ser compensado para os ex-proprietários continua pendente, então parte importante da equação segue desconhecida.

Quais os possíveis impactos e como esses países podem mudar a imagem diante dos investidores?

No caso da Argentina, reduz a atratividade e provavelmente irá dificultar o desenvolvimento das significativas reservas de gás do país, que apenas recentemente começaram a atrair interesse.

No caso da Bolívia, o governo parece estar mais consciente do risco que a medida representa em termos de bloquear investimentos. Em clima de nacionalização, os investimentos certamente permanecerão abaixo do potencial em ambos os países.

A IEA acredita que os demais países da América Latina serão afetados?

As nacionalizações podem ser identificadas como parte de uma tendência. Há uma percepção da América Latina como um destino único de investimentos. Por isso pode haver impacto sobre a região. No entanto, os investidores vão continuar a diferenciar as abordagens de cada Estado na regulação do setor, de modo que o impacto, especificamente no Brasil, será bastante limitado.

Quais as expectativas sobre a Argentina e a Bolívia?

Não há indicação de que a medida na Argentina faça parte de uma estratégia mais ampla de nacionalizações no setor de energia.

Agora, a maneira como o país ignorou a crítica internacional, a facilidade com que aceitou os danos ao seus potenciais investimentos e à sua relação bilateral com a Espanha continua sendo muito preocupante.

A Bolívia vem seguindo uma estratégia de nacionalizações por mais de seis anos e o progresso em seus planos ambiciosos de industrialização do setor de gás tem sido muito lento.

De alguma forma as expropriações podem auxiliar no desenvolvimento de um país?

Em geral, as nacionalizações são anunciadas com muito alarde, criam grandes expectativas, mas as companhias petrolíferas nacionais tendem a investir pouco no desenvolvimento a longo prazo em troca de pequenos aumentos na produção de curto prazo.

Muitas vezes também sofrem pressão para aumentar as contratações para além dos níveis necessários, levando à uma gestão ineficiente de recursos.

Um setor de energia bem regulado pode funcionar muito bem sem a uma companhia nacional de petróleo, garantindo acesso ao financiamento internacional e ao know-how, gerando rendimento adequado para o estado.

O Brasil deve adotar papel de liderança e tentar conter futuras expropriações na América Latina?

Tendo em vista a forte aderência ao princípio da não intervenção, tanto no Brasil quanto na maioria dos países da América Latina, isto não parece ser uma opção viável. O Brasil pode servir de exemplo em termos de vontade e capacidade de atrair investimentos, ao invés de conduzi-lo para fora do país.

 

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