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11/07/2012 - 05h00

Sou um dos que sentiram 'peso da mão de Stálin', diz neto de Trótski

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SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

Esteban Volkov era um adolescente de 14 anos que voltava do colégio numa tarde quente do verão de 1940.

Recém-chegado ao México, ele ainda se surpreendia com o modo como as pessoas falavam alto na rua, como as praças e alamedas eram floridas, como a música alta estava sempre presente. Não era assim em sua Ucrânia natal. Muito menos na Alemanha de Adolf Hitler na qual vivera brevemente com sua mãe.

Naquele dia, porém, ele viveria o episódio mais traumático de sua vida e seria testemunha de um dos acontecimentos políticos mais importantes do século 20. Quando chegou em casa, no bairro de Coyoacán, havia uma movimentação estranha. Agitados, guarda-costas e familiares andavam de um lado para o outro.

Andrew Winning /Reuters
Esteban Volkov, neto de Leon Trótski, conversa sobre o temor provocado pelo exílio de seu avô, no México
Esteban Volkov, neto de Leon Trótski, conversa sobre o temor provocado pelo exílio de seu avô, no México

Ele então soube que seu avô havia sido ferido e era transportado, encharcado de sangue, para o hospital. "O menino não tem que ver isso", ele lembra de tê-lo ouvido dizer. Horas depois, esse avô morreria no hospital. Seu nome era León Trótski.

Volkov tem hoje 86 anos e vive no mesmo bairro. "Daqui posso contar a história do 'abuelo' [avô] aos que vêm visitar a casa e fazer perguntas", conta à Folha. Presidente da casa-museu León Trótski, Volkov é viúvo e tem quatro filhas. Das pessoas que presenciaram a cena, é o único sobrevivente.

"Sou uma das poucas vozes do mundo que podem contar que sentiram diretamente o peso da cruel mão de Stálin. E vou continuar fazendo isso", afirma Volkov.

Neste ano, completam-se 75 anos do exílio do líder revolucionário bolchevique na América. Trótski havia sido expulso do partido comunista e era perseguido por Stálin.

Ele encontrou refúgio no México pós-revolucionário, governado por Lázaro Cárdenas. Nos primeiros dois anos de seu exílio, viveu na casa da artista plástica Frida Kahlo, com quem se diz que ele teve um romance.

"Frida tinha fama de tentar conquistar todos os homens que a rodeavam, não seria diferente com o 'abuelo'. Houve algo, sim, mas passageiro", diz Volkov, que se lembra dela e de seu parceiro, o muralista Diego Rivera.

RESGATE

De Trótski, Volkov tem a lembrança de ser um homem cheio de vitalidade, otimismo e senso de humor. Além disso, sentia pelo neto uma grande responsabilidade. Quando resolveu trazê-lo para a América, o menino já tinha ficado órfão.

O pai, depois de ter sido exilado na Sibéria, desaparecera num gulag (campo soviético de trabalhos forçados). A mãe se suicidara na Alemanha. "Fui viver com uns tios em Paris, mas o 'abuelo' não descansou até que me resgatou e me trouxe para junto dele."

Volkov estava na casa quando houve o primeiro atentado contra a vida de Trótski, comandado pelo artista plástico Alfaro Siqueiros, ativo militante stalinista.

Os atiradores entraram em seu quarto, pensando que o líder revolucionário poderia estar ali. "Me escondi embaixo da cama, mas fui atingido de raspão, no pé. Até hoje tenho a marca", resume.

Apesar de ter se naturalizado mexicano, Volkov diz que nunca se envolveu com a política local do país. Formou-se engenheiro químico e trabalhou em laboratórios.

"Sigo o exemplo do 'abuelo' e não me meto. Sei, porém, que ele veria com bons olhos os avanços da esquerda no continente. Mesmo assim, ele era mais radical, certamente ia achar que esses líderes de hoje poderiam ir adiante."

 

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