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Funerais e busca por abrigo dividem Gaza
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MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A GAZA
No sexto dia da maior ofensiva militar israelense desde 2008, os moradores de Gaza se dividiram ontem entre a busca de abrigo contra os ataques e o enterro dos mortos, tomados pelo desejo de vingança e pela descrença de que a trégua esteja próxima.
Nas ruas desertas de Gaza, com o comércio quase todo fechado sob o ronco permanente dos aviões israelenses, as únicas aglomerações são nos hospitais e cemitérios.
Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, o grupo islâmico que controla o território palestino, o número de mortos ultrapassou cem, incluindo 27 crianças.
Quatro delas foram enterradas ontem no principal cemitério de Gaza, num funeral que atraiu centenas de pessoas e se transformou numa catarse coletiva, provocada pelo episódio mais sangrento desde o início da ofensiva.
Num único ataque, 12 pessoas foram mortas no domingo, sendo dez delas de uma mesma família.
A casa pertencia a Jamal Dalou, que não estava presente no momento do ataque e perdeu a mulher, a irmã, duas filhas e a cunhada, além dos quatro netos de dois a seis anos de idade.
Na tradicional tenda fúnebre montada pelo Hamas ao lado dos escombros, onde ainda está desaparecida uma outra filha, de 15 anos, Dalou recebia os pêsames em meio à sensação de que seu sobrenome se tornou um instantâneo símbolo da violência israelense para os palestinos.
Nos programas da TV Al Aqsa, emissora do Hamas, a tragédia da família Dalou ganhou destaque equivalente ao dado ao comandante militar do grupo, Ahmed Jabari, morto em um ataque israelense logo no primeiro dia da ofensiva.
O premiê do Hamas, Ismail Haniya, que teve o escritório destruído num bombardeio e desde então sumiu em um esconderijo subterrâneo, classificou o ataque de "um massacre que excedeu todas as expectativas".
As mortes de crianças e mulheres em um único e devastador bombardeio evocaram na imprensa israelense as imagens de episódios semelhantes, como o ataque à aldeia de Kana durante a guerra do Líbano (2006), com potencial para mudar o rumo de um conflito.
O porta-voz do Exército israelense, Yoav Mordechai, disse que o ataque visava um militante do Hamas e que suas circunstâncias estavam sendo investigadas.
"O alvo desejado neste caso era responsável por disparar foguetes contra Israel. Não sei o que aconteceu a ele, mas sei que estamos comprometidos com a segurança dos cidadãos de Israel", disse Mordechai.
CIVIS
Segundo o Hamas, quase a metade dos palestinos mortos são civis, mas a descrição é de difícil verificação, sobretudo em uma guerra assimétrica, em que milícias armadas atuando num espaço de alta densidade demográfica lutam contra um Exército regular.
Por via das dúvidas, o policial Nader Alhajar, 27, decidiu tirar a farda nos últimos dias e recebeu ordens para ficar longe da delegacia em que trabalha.
Apesar disso, ele se diz encorajado pela reação do Hamas e outros grupos da "resistência" e espera que a artilharia contra Israel se intensifique. Mas o que ele mais deseja, diz, é uma invasão terrestre de Israel.
"Eles nos atacam de longe, nosso inimigo é covarde e invisível. Espero que eles entrem para que possamos olhar nos olhos dos soldados. Estamos preparados", diz, desafiador.
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