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10/12/2012 - 03h20

Análise: Sunitas avançam no Oriente Médio

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NEIL MacFARQUHAR
DO "NEW YORK TIMES"

RAMALLAH, Cisjordânia - Os EUA e seus aliados no Oriente Médio foram desafiados durante anos pelo aumento do poderio do chamado crescente xiita -uma aliança política e ideológica apoiada pelo Irã que vinculava atores regionais profundamente hostis a Israel e ao Ocidente.

Porém, levantes, guerras e fatores econômicos abriram o caminho para o surgimento de um novo eixo liderado pela aliança muçulmana xiita do Egito, do Qatar e da Turquia. Esse triunvirato desempenhou um papel importante para ajudar a pôr fim ao conflito de oito dias entre Israel e Gaza, em novembro. Ele o fez em grande medida aproximando-se do Hamas, atraindo o movimento para longe da aliança Irã-Síria-Hizbollah e oferecendo influência diplomática e ajuda substancial.

Para os EUA e Israel, a nova dinâmica oferece uma oportunidade para isolar o Irã, limitar seu acesso ao mundo árabe e fazer com que seja mais difícil Teerã armar seus agentes na fronteira com Israel. Mas os avanços são limitados pelo fato de que, embora esses líderes sunitas estejam dispostos a trabalhar com Washington -diferentemente de Teerã-, eles também promovem uma ideologia radical de base religiosa que alimenta o sentimento antiocidental em toda a região.

O Hamas -que recebeu do Irã mísseis que alcançaram Israel- rompeu com o eixo iraniano no passado ao apoiar abertamente a rebelião contra o ditador sírio, Bashar Assad. Já a sua afinidade com o eixo Egito-Qatar-Turquia rendeu frutos no mês passado.

"Esse eixo tem mais a oferecer política, diplomática e materialmente do que o Irã", comentou Robert Malley, diretor do programa para o Oriente Médio do International Crisis Group.

O conflito em Gaza ajuda a ilustrar a evolução das alianças no Oriente Médio na onda islâmica que vem derrubando um governo após o outro desde janeiro de 2011. O Irã não tinha interesse num cessar-fogo, enquanto o Egito, o Qatar e a Turquia tinham.

Mas a luta pela Síria é a disputa que define as coisas nesse duelo renovado entre sunitas e xiitas. O vencedor ganhará uma encruzilhada estratégica valorizada.

Por enquanto, parece muito possível que o Irã perca sua principal parceira árabe, a Síria. A oposição liderada pelos sunitas parece estar ameaçando o governo dinástico de 40 anos de duração da família Assad e sua longa aliança com o Irã. Se Assad cair, o Irã e o Hizbollah ficarão isolados como aliança muçulmana xiita num Oriente Médio cada vez mais sectário.

A nova realidade pode ser um Irã mais fraco, mas um Oriente Médio muito mais religiosamente conservador e muito menos em dívida com os Estados Unidos.

Islâmicos já chegaram ao poder no Egito, na Líbia e na Tunísia, e a oposição síria é liderada por insurgentes sunitas, incluindo uma parcela crescente que se identifica como jihadista, sendo que alguns se declaram simpatizantes da Al Qaeda. O Qatar, que abriga uma base militar americana, também financia islâmicos na região.

Os membros da velha guarda da Autoridade Palestina se esforçam para continuar relevantes enquanto seu esforço fracassado de 20 anos para pôr fim à ocupação israelense dos territórios palestinos os faz parecer obsoletos.

"O Hamas sempre afirmou que é o futuro das transformações na região em função de sua natureza revolucionária. Ele faz parte dos grupos políticos religiosos que vêm sendo os vencedores nas revoluções", comentou Ghassan Khatib, da Universidade Birzeit e ex-porta-voz governamental.

Embora, em novembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas tenha votado pelo reconhecimento da Palestina como Estado não membro, analistas consideraram que a decisão chegou tarde demais, em vista do novo estado de ânimo reinante na região.

Numa padaria movimentada de Ramallah, o proprietário ousou pendurar na vitrine um cartaz de luto por Ahmed al Jabari, o chefe militar do Hamas cujo assassinato por Israel ajudou a desencadear o conflito mais recente.

"A resistência", disse Tha'er al-Baw, 23, aludindo ao Hamas, "mostrou que é melhor do que o campo que negocia. Nos tempos de Arafat, pensávamos que seria possível chegar à paz pelas negociações. Hoje ninguém mais acredita nisso".

O Egito, o Qatar e a Turquia querem um Oriente Médio mais calmo e estável, algo que, como já declararam repetidas vezes, exige o fim da ocupação israelense. Mas os novos governos islâmicos não falam muito sobre a criação do Estado da Palestina lado a lado com Israel, de modo que, para analistas, alguma espécie de trégua é o mais provável.

Esses países se negam a fornecer armas, de modo que o Hamas vai manter seus contatos com Teerã. Khaled Meshal, o líder do Hamas, disse à CNN que os laços "não são como antes, mas não houve nenhum corte nas relações".

No passado, o Hamas e o Hizbollah eram aliados.

Agora, existem alguns choques de interesses. Isso ilustra um deslocamento em direção ao novo eixo sunita.

Um diplomata ocidental que queria explicar essas recentes mudanças desenhou uma cruz na região, tendo a Síria em seu ponto central. Na linha leste-oeste ele escreveu "crescente febril", num trocadilho com o termo tradicional "Crescente Fértil", usado para descrever o trecho do Oriente Médio onde a civilização nasceu. O crescente febril representa a linha divisória volátil entre sunitas e xiitas, tendo a Síria como o prêmio a ser conquistado.

"São governos populistas, muito mais sintonizados com a opinião pública interna do que eram os regimes anteriores", diz Rashid Khalidi, professor de estudos árabes na Universidade Columbia.

 

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