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19/12/2012 - 05h40

ONG investe em ativismo on-line para ajudar os rebeldes na Síria

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DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

Ricken Patel atende o telefonema da Folha na sexta-feira logo após ser divulgado o massacre da escola americana de Sandy Hook, em que 20 crianças foram mortas a tiros.

Antes da ligação, o cofundador da Avaaz decidia como ia lidar com o incidente. Depois de desligar o telefone, ele testou uma campanha entre milhares de americanos escolhidos aleatoriamente.

No dia seguinte, Patel colocou no ar o projeto "Never Again" (nunca de novo), petição pelo controle de armas nos Estados Unidos (en. avaaz.org/1244/never-again).

O exemplo dá mostras de uma das principais características da Avaaz, organização on-line com 17 milhões de entusiastas: agilidade.

O grupo, fundado em 2007, organizou centenas de campanhas, com variações nos métodos. Por exemplo, inundou líderes globais com e-mails para banir bombas de fragmentação e coletou assinaturas a favor da Lei da Ficha Limpa no Brasil.

A ação de maior repercussão, porém, foi na Síria: a Avaaz distribuiu celulares para ativistas sírios e coordenou com os insurgentes o resgate do fotógrafo britânico Paul Conroy, que resultou na morte de 13 rebeldes sírios.

Agora, o grupo vai atuar na conscientização sobre desabrigados na Síria. A mudança de foco, diz, acompanha a mudança da situação no país. Leia alguns trechos da entrevista concedida à Folha.

*

Folha - Como vocês reagiram à notícia do tiroteio em Newtown? Haverá uma campanha?
Ricken Patel - Estamos desenvolvendo uma ação nesses últimos 30 minutos. Em seguida, vamos enviar o teste para um grupo de milhares de americanos que escolhemos aleatoriamente.

Vocês têm atuação forte na Síria. Como está a situação humanitária no país, hoje?
Pessoas deslocadas estão dormindo a céu aberto. O preço das coisas decolou. Combustível está muito caro. As pessoas estão mudando de emprego porque não há trabalho. Elas não voltam para casa por medo das bombas.

Qual será a campanha para sanar essa situação?
Será uma campanha menor, de conscientização. Enviaremos relatórios à mídia sobre como está a situação.

A atuação da Avaaz na Síria começou com a distribuição de celulares a rebeldes.
Nós mudamos muitas das atividades na Síria, do combate ao blecaute para uma agenda de conscientização.

Isso porque a insurgência se transformou de um movimento não violento para uma guerra civil. Nas áreas controladas por rebeldes, não há mais um apagão de comunicação. Agora, usamos a rede de informantes para contar as histórias dessas pessoas.

Uma das missões do Avaaz é combater o fatalismo. Como isso foi vencido na Síria?
A Síria é um exemplo histórico. Todos disseram que a revolução não aconteceria por lá. Era o país sobre o qual todos estavam certos de que não haveria insurgência, por causa da brutalidade do regime.

Como vocês lidam com as situações em que suas posições entram em conflito com os interesses dos Estados?
Nós temos uma missão democrática, que nos diz que posição tomar. Se a maior parte do mundo simpatizasse com o ditador Bashar Assad, não nos oporíamos a ele.

Às vezes, nossa missão nos leva a um conflito direto de interesses com governos. É quando constatamos que há uma distância entre o que os governos fazem e o que as pessoas querem que façam.

De que outras maneiras vocês apoiaram a insurgência?
Pressionamos nosso governo para se engajar com a oposição, e providenciamos financiamento nos primeiros dias de insurgência para que os insurgentes viajassem e se encontrassem com os líderes internacionais, construindo uma oposição coerente.

Foi diplomático e pacífico.

As campanhas surgem da interação com todos os membros da organização. Acontece de um projeto ser contrário às suas próprias convicções?
Acontece frequentemente que uma campanha sobre a qual estou animado não interessa aos membros. Temos dificuldade de emplacar campanhas de política econômica. É difícil propor alternativas, e isso é minha culpa.

Nós testamos campanhas umas contra as outras, para descobrir o que é que as pessoas realmente querem.

Há uma lição aí. Eu respeito a sabedoria da multidão.

A multidão é sempre sábia?
Não. Mas eu acredito na sabedoria dessa multidão [os membros]. Também acredito na sabedoria da maior multidão, que é a humanidade.

Isso para definir as campanhas de interesse. Mas, para desenvolvê-las contamos com a sabedoria da nossa equipe. São pessoas inteligentes e estratégicas.

Eu realmente acho que as pessoas querem salvar o mundo. Só que elas não necessariamente têm o tempo e a formação precisas para isso.

Às vezes, as ações têm danos colaterais, como a morte de ativistas durante o resgate do fotógrafo britânico Paul Conroy organizado em fevereiro. Como vocês lidam com isso?

Fomos incrivelmente cuidadosos e focados. Ficamos muito tristes ao saber da morte dos ativistas --não apenas daqueles que morreram durante o resgate, mas também dos que morrem diariamente.

Eu tenho uma resposta não convencional para a pergunta. Tudo o que você pode fazer é dar o seu melhor. Se você não faz isso com medo da reação às possíveis consequências negativas, então falhou com sua responsabilidade.

A cultura de mídia pune você pelas consequências das suas ações, mas nunca pelas consequências da sua inação.

 

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