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22/01/2013 - 06h30

Análise: Discurso de Obama carece de frase que entre para a história

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CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em muitos aspectos, o segundo discurso de posse de Barack Obama como presidente dos EUA seguiu roteiro de absoluta previsibilidade.

Todos os temas tradicionais do gênero estiveram presentes (lições da história, singularidade deste momento atual, grandes desafios pela frente, funções do governo, necessidade de união nacional).

Mas escapou do lugar-comum ao defender sem deixar margem a dúvidas posições sobre temas que dividem a sociedade americana.

Em comparação com o discurso de quatro anos atrás, o de ontem foi muito mais específico, direto, vigoroso.

Obama defendeu políticas públicas para mitigar injustiças sociais, favorecer o uso de fontes renováveis de energia, combater os efeitos das mudanças climáticas, garantir igualdade de direitos e salários para mulheres e homossexuais, acolher bem a todos os imigrantes.

Apesar de expressar apoio a essas teses, combatidas por expressivo contingente de seus compatriotas, ele enfatizou necessidade de união de todos para realizar as tarefas que julga necessárias à nação inteira.

Obama usou a palavra "nós" 62 vezes, "juntos", sete, e a expressão "nós, o povo", cinco. Em contraste, ao contrário da tradição e a exemplo de Abraham Lincoln em 1865, Obama quase não usou a palavra "eu", que só apareceu duas vezes sozinha ontem (e outras duas na expressão "vocês e eu"). No discurso de sua segunda posse, Lincoln disse "eu" uma só vez.

Mas Obama não seguiu o exemplo de Lincoln quanto à concisão. Há 148 anos, o presidente com quem o atual é frequentemente comparado precisou de apenas 701 palavras para dizer aos americanos o que achava necessário. Ontem, Obama pronunciou 2.096.

Apesar de ter sido um discurso forte em conteúdo e das indiscutíveis qualidades retóricas do orador, é improvável que qualquer frase entre para a história como as de Franklin Roosevelt em 1932 ("a única coisa de que temos de ter medo é do próprio medo") e Kennedy em 1960 ("não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país").

Os momentos mais eloquentes ontem foram datados demais para manterem a força daqui a 50 ou 80 anos. Por exemplo: "Não podemos confundir absolutismo com princípio, ou substituir espetáculo por política, nem tratar xingamentos como debate racional".

Essa e outras foram frases boas para o momento político atual e são indícios de um presidente mais disposto para ir ao combate em defesa dos ideais que o elegeram e reelegeram. Úteis por agora, mas sem estofo para entrar na posteridade.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é editor da revista "Política Externa"

 

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