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Rafael Correa, presidente do Equador, aprendeu quéchua com índios
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SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A QUITO
Numa das publicidades da campanha eleitoral, que terminou na última quinta-feira, Rafael Correa aparece deixando um pouco a faixa presidencial de lado e percorrendo, de bicicleta, as ruas do centro colonial de Quito, estradas e o litoral do país.
A imagem de presidente atlético e explosivo nos discursos contrasta com a imagem final do spot, em que ele conversa, em quéchua (idioma usado pelos indígenas do país), com uma senhora, numa modesta casa serrana.
Seus opositores o criticam por autoritário, seus apoiadores, por resolver problemas do país adiados por mais de uma década de crise política.
"Por um lado, ele é mesmo um demagogo e um populista. Por outro, um tecnocrata pragmático. Ou seja, a imagem que irradia é dúbia, complexa de descrever", diz um jornalista de um jornal oposicionista que não quis se identificar.
O analista político Simon Pachano, da FLACSO, concorda. "Nele há uma combinação de líder carismático com forte capacidade de atrair as pessoas com um tecnocrata, associado à ideia de eficiência na resolução de problemas."
Correa, 49, não veio da política. Sua origem são os grupos religiosos de que formou parte quando jovem e a academia, na qual conta muito a passagem que teve pela Europa e pelos EUA. Quando voltou, passou um ano estudando quéchua com os indígenas no interior do país, junto a um monsenhor que militava na Teologia da Libertação.
Casado há 20 anos com a belga Anne Malherbe, com quem tem três filhos, Correa disse que a fase de adaptação entre culturas com a esposa não foi fácil. "Lá, é preciso superar o sexismo e o machismo, tão comuns aqui, por serem intoleráveis lá", confessou, em entrevista concedida a um jornal local na última semana.
Para Pachano, a fraqueza de Correa é a política propriamente dita. "Ele não a vê como espaço de debate, e sim de enfrentamento. Nesse sentido, está mais identificado a Cristina Kirchner do que a Dilma." O estudioso, porém, recusa o vínculo imediato que a imprensa estrangeira faz dele com Hugo Chávez.
"Sua formação é muito melhor, e ele não faz o uso da ideologia como fazia Chávez.
Torcedor fanático do Emelec, de Guayaquil (sua cidade natal), Correa foi ministro da economia em 2005. Na época, definia uma postura dura diante do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Sua candidatura, em 2006, beneficiou-se do desgaste dos partidos tradicionais, que hoje deram lugar, no Equador, a um grupo de partidos ligados à minorias.
Em 2008, reformou a Constituição e revalidou o cargo em 2009. Confirmada a vitória hoje e cumprindo o mandato, ficaria até 2017 no poder. Depois disso, Correa diz que seu desejo é voltar à Bélgica e aposentar-se por lá, para não "sacrificar" mais a família.
Analistas apontam que seu giro ao centro o fez perder votos esquerdistas e ambientalistas, mas ganhar uma nova faixa de eleitorado de classe média. A mudança de perfil teria se dado em 2011, quando enfrentou um motim policial.
Avesso a entrevistas --as dá praticamente apenas a meios que o apoiam--, Correa tem um espaço na televisão, aos sábados, onde defende suas linhas de governo.
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