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"Deus é como a fada do dente", diz jovem criado em família de adventistas do sétimo dia
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DANIEL MÉDICI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Guilherme Dangel, hoje com 19 anos, não achava certo que uma professora do colégio público onde estudava começasse suas aulas recitando um salmo da Bíblia. Liderou um protesto para que a laicidade do ensino fosse respeitada.
A manifestação deu certo. A professora, evangélica, trocou a oração por um minuto de silêncio. Guilherme passou a se reunir com ateus e ativistas a favor da separação entre religião e Estado.
Criado em uma família de adventistas do sétimo dia, Guilherme não sabe, exatamente, desde quando é ateu, nem se lembra da última vez em que compareceu a um culto religioso. Foi por uma amiga que ouviu falar pela primeira vez no ateísmo. Usou a rede social Orkut para se informar melhor sobre a orientação, e a abraçou desde então.
"Não acho que tudo no mundo tenha uma explicação", defende Guilherme. "A crença em Deus é um conforto. Não tenho nada contra quem acredita, mas, para mim, ele é um pouco como a fada do dente."
No bairro Independência, região de classe média baixa de São Bernardo do Campo (SP), muitos de seus conhecidos são cristãos. "Tem uma capela católica aqui perto, antiga e pequena, e muitas igrejas evangélicas, inclusive uma no final da rua", conta.
A diversidade de credos não o incomoda. Guilherme afirma não sofrer preconceito por parte dos amigos nem nos empregos pelos quais passou -durante um ano e meio, dividiu as aulas com um estágio na EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e o trabalho numa empresa de telemarketing.
Mas ele não esteve isento de xingamentos na escola: "Já fui chamado de anticristo, idiota, herege -herege é um clássico", brinca.
O estudante lembra com carinho da namorada evangélica que teve. "Não tínhamos problemas com religião. Nunca fui a um culto com ela, e ela nunca fez questão", diz, ressaltando que evitou ter contato com a família da moça, a qual descreve como "um pouco fanática". Ele vê o Brasil como um lugar pouco afeito aos que não acreditam em Deus.
Para o futuro, Guilherme sonha com uma graduação em física ou química. "Algo na área científica", justifica.
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