Derrotada, Alemanha amargou sanções ao fim da Primeira Guerra
Em 1918, a Alemanha sofria enorme crise política. As seguidas derrotas aumentavam a tensão e minguavam a confiança na liderança do kaiser Guilherme 2º. O descontentamento era grande entre os operários, e havia medo de que o país tivesse uma revolução comunista nos moldes da russa. O governo, então, começou a preparar negociações de paz.
"O comando militar alemão queria culpar os partidos que tinham maioria no Parlamento, poupando a elite militar e a aristocracia. A Alemanha se desfazia rapidamente nas últimas semanas da guerra. Havia deserções em massa no Exército e motins na Marinha", conta o historiador Martin Kitchen, da Universidade Simon Fraser, do Canadá.
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O kaiser Guilherme 2º, da Alemanha |
Em 29 de setembro daquele ano, os líderes militares alemães, marechal Paul von Hindenburg e general Erich Ludendorff, admitiram que a guerra estava perdida e disseram ao kaiser que iniciasse as negociações de um armistício baseado no plano do então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson.
O Kaiser abdicou ao trono em 7 de novembro e se refugiou na Bélgica. No mesmo dia, uma revolta de operários socialistas e anarquistas em Munique ocasionou a criação de um Estado socialista na Baviera. Várias cidades alemãs passaram a ser administradas por "conselhos de trabalhadores e soldados".
Um cessar-fogo foi assinado no dia 9 de novembro. "A Alemanha era uma República, com poder dividido entre o teoricamente marxista Partido Social Democrata (SDP) e o Exército, teoricamente monarquista", diz Kitchen.
Os alemães só não esperavam que as negociações de paz fossem tão duras. "Os alemães diziam que tinham sido iludidos a concordar com o armistício. Diziam que tinham acreditado no plano dos '14 pontos' do presidente Wilson. Mas os líderes alemães sabiam que o acordo de paz seria duro com a Alemanha, sabiam que seria um acordo vingativo."
Versalhes
O Tratado de Versailles foi negociado por representantes dos países vencedores como o primeiro-ministro britânico David Lloyd George e o premiê francês Georges Clemenceau. Sem puder participar, os alemães foram informados em 7 de maio de termos que nem os piores pessimistas poderiam prever.
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Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes |
O tratado proibia a Alemanha de ter um Exército com mais de 100 mil homens ou de possuir aviões, submarinos e tanques. Toda a frota naval era obrigada a se render; 90% da marinha mercante seria entregue aos aliados, assim como 10% do gado e grande parte das ferrovias estatais. O país ainda tinha que prover 40 milhões de toneladas de carvão por ano.
O acordo ainda retirava da Alemanha boa parte do território. Alta Silésia e grande parte do leste da Prússia seriam entregues à Polônia no leste; o oeste da Prússia seria separado do resto da Alemanha; Danzig, Memel e a região do Saar, na fronteira com a França, ficariam sob tutela da Liga das Nações; a margem esquerda do rio Reno seria desmilitarizada; toda a Renânia seria ocupada por 15 anos; e a região de Eupen-Malmedy iria para a Bélgica. Uma unificação com a Áustria estava expressamente proibida.
"Era o fim do Império colonial germânico, e o início da República de Weimar", diz Kitchen. Havia ainda uma cláusula que apontava o país como único culpado pela guerra. "Todos os alemães, à esquerda e à direita, acharam o acordo de paz injusto."
Na ocasião da assinatura do documento, em Versalhes, os alemães foram obrigados a usar uma entrada para a Sala dos Espelhos diferente da das demais autoridades.
Segunda Guerra
Inevitavelmente, o tratado causou crise econômica e hiperinflação. Em 1923, os preços no comércio alemão dobravam a cada dois dias. Kitchen e Michael Neiberg, PhD em história e professor da Universidade de Southern Mississippi, concordam, no entanto, que é "simplista" culpar o tratado pela ascensão do nazismo e a Segunda Guerra Mundial.
"Não há dúvida de que o Tratado de Versailles era ruim, mas havia um esforço da Europa desde o início para tentar compensar. Os acordos de Locarno, em 1925, são um exemplo. Não se pode simplesmente dizer que o Tratado de Versailles levou a Hitler", diz Neiberg.
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