Colômbia seguirá exemplo do Brasil no campo, diz ministro da Fazenda
O ministro da Fazenda da Colômbia, Juan Carlos Echeverry, tem ambiciosos planos de reformas, e pretende começar pela politicamente mais difícil: a redistribuição regional de royalties do petróleo e da mineração.
"É aí que há de apostar nosso capital político. É essencial para o combate à pobreza e à desigualdade", disse Echeverry à Folha.
A Colômbia vive um boom mineiro/petroleiro,, com importante participação de empresas brasileiras.
Santos aposta na reforma para sair do apertado caixa deixado pelo antecessor Uribe: quase 4% de deficit em relação ao PIB, e apenas 1,6% destinado a investimentos.
A mudança dos royalties, no entanto, é uma prova de fogo para a amplíssima maioria no Congresso do governo que assumiu em 7 de agosto.
O projeto já apresentado ontem no Congresso e os departamentos (Estados) mineiros já se articulam para barrar a mudança.
Outra aposta da Fazenda colombiana para fazer o país crescer é a agricultura. Echeverry afirma que seu país pretende seguir o exemplo do Brasil para dinamizar o campo colombiano. "A Embrapa é um modelo que queremos imitar", disse.
O ministro da Fazenda diz que o presidente Juan Manuel Santos, que chegou ao Brasil ontem, buscará equilibrar o deficit da balança comercial bilateral e atrair empresários brasileiros a usar o país como saída ao Pacífico.
PhD em economia na Universidade de Nova York, Echeverry trabalha com Santos há dez anos e há dois começou a discutir com o atual presidente o programa de governo.
FOLHA O que a Colômbia espera da relação com o Brasil?
JUAN CARLOS ECHEVERRY Mais investimentos e comércio. Queremos exportar muito mais para o Brasil. Há também uma imensa possibilidade em infraestrutura, pois se sabe do interesse do Brasil de sair ao Pacífico por algum dos países fronteiriços. Colômbia é uma alternativa atrativa baseada na multimodalidade [dos portos].
Nossa agenda de desenvolvimento do campo é ambiciosa, e segue em boa parte o modelo do Brasil. A Embrapa é um modelo que queremos imitar.
FOLHA A prioridade de sua pasta é a reforma de royalties do petróleo e mineração. Por quê?
ECHEVERRY É aí que há de apostar nosso capital político. É essencial para o combate à pobreza e à desigualdade. Além disso, há disparidades regionais que enfrentaremos por meio de um fundo de compensação regional [a ser criado com os recursos]. Também necessitamos de reformas para formalização do trabalho e empresarial, reforma da saúde. Por último, a regra fiscal de austeridade [que prevê superavit primário].
FOLHA - Santos prometeu tirar 7 milhões de colombianos da pobreza em quatro anos, ou 35% dos pobres hoje que, no total, perfazem quase metade do país. É uma meta factível?
ECHEVERRY Há muito gasto social, mas com eficácia duvidosa. Há vários válvulas para escape dos recursos e incentivos perversos para as famílias. Passamos por duas décadas quando o desafio foi completar a cobertura universal de saúde, educação e pensão em direção a um desafio futuro de qualidade e eficiência. É possível reduzir a pobreza com uma boa política econômica, consistente no tempo e com melhoras nas políticas sociais.
FOLHA O sr. se reuniu com o elogiado ex-ministro da Fazenda chileno Andrés Velasco e também com o controverso ex-ministro argentino Domingo Cavallo. Por quê? O seu modelo será mais chileno ou mais brasileiro? Como o sr. se define?
ECHEVERRY Velasco nos ajudou no tema da regra fiscal e no fundo para economizar recursos provenientes de petróleo e carvão. Cavallo fez há seis meses uma proposta de formalização do trabalho interessante, e por isso o convidamos. Ambos são talentosos e experimentados, além de bons amigos. Sou um economista ortodoxo, com um pé na macroeconomia estável e outro na micro ligada aos setores que serão as locomotivas dessa década.
FOLHA Que significa que a Colômbia seja C de Civets?
ECHEVERRY É um país com gente jovem e preparada e será um pujante fornecedor de serviços para países que falam espanhol. Teremos 50 milhões de habitantes em 2020. Temos uma situação geográfica invejável e um ambiente pró-mercado, pró-negócios e pró-crescimento. É o segredo mais bem guardado da América Latina, mas faremos que não seja mais segredo.
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