"Nova York nunca mais será a mesma", diz brasileiro que vivia nos EUA
Brasileiros que viviam em Nova York ou em outras partes dos Estados Unidos na época dos atentados de 11 de Setembro sentiram de perto o impacto e a comoção logo após os ataques. Confira relatos:
"Eu trabalhava na Bolsa de Nova York, na Georgeson Shareholder, como líder de compras. Meu trabalho consistia em calcular e lançar todas as compras feitas no dia e verificar os cheques enviados. O horário trabalho era das 17h às 23h em dias normais, mas em dias mais corridos poderia se estender até as 7h.
Angel Franco/The New York Times | ||
Bombeiros trabalhan no WTC após atentados; "Nova York nunca mais será a mesma", diz brasileiro |
No dia 11 de setembro de 2001, logo após o primeiro avião colidir, meu chefe me ligou solicitando que não fosse trabalhar naquele dia, e enquanto assistíamos TV e conversávamos, vimos o outro avião se aproximando. A sensação foi indescritível. O que para nós era apenas um acidente, tornou-se um ataque. Gritávamos pelo telefone, desesperados, apesar de morarmos longe do local. Foi inacreditável!!!
O ataque foi muito impressionante, mas para os que viviam em Nova York, não havia terminado. Houve muitos boatos de bombas em locais importantes da cidade. Apesar das inúmeras ameaças, voltei a trabalhar depois de uma semana. A vida continuou até que o ritmo voltasse ao normal, mas Nova York nunca será a mesma.
Nos ônibus e trens de metrô, havia homenagens para os mortos e desaparecidos. Nas ruas, pessoas que nunca tinham se visto se abraçavam, em busca de conforto. Nova York passou a ser uma cidade em que todos choravam".
Igor Otani, 43, é administrador de empresas e morou em Nova York de1996 a 2002
"É difícil acreditar que dez anos já se passaram desde os ataques de 11/9. Eu lembro como se fosse ontem de ser acordado pelo telefonema de minha mãe, preocupada, pedindo pra que eu ligasse a TV porque 'uma coisa muito terrível está acontecendo, os Estados Unidos estavam sendo atacados'".
Jackson Puff/Arquivo pessoal |
O brasileiro Jackson Puff, 38, que vive em San Francisco, ao lado da mulher; ele relata o clima nos EUA após atentados |
Saltei da cama e liguei a TV. Na tela, uma das torres do WTC expelindo fumaça, e, a cada cinco segundos, o replay de um avião se chocando contra a torre. Havia muita informação desencontrada, os jornalistas tentavam entender o que estava acontecendo. De repente, ao vivo, outro avião se chocou contra a segunda torre. Eu não sabia o que pensar. Depois de alguns minutos, as duas torres caíram.
Aqui na área de San Francisco, pouca gente saiu às ruas no dia dos ataques, e nos próximos dois ou três dias. Aulas foram canceladas, pessoas faltaram ao trabalho, o transporte público foi prejudicado. Medidas de precaução foram tomadas, como o fechamento de banheiros públicos em estações de metrô, a instalação de máquinas raio x em entradas de prédios públicos, e várias outras medidas em aeroportos. A sensação era que todo mundo estava tentando adivinhar onde aconteceria o próximo atentado.
Como imigrante morando aqui nos últimos 12 anos, penso que eu não poderia ter escolhido uma pior época para estar nos EUA. Nesse tempo em que estou aqui, o país começou duas guerras sem fim, entrou em uma recessão violenta, passou pela desastre da falência dos bancos e do setor imobiliário, sem falar dos dois governos absurdos de [George W.] Bush. A Disneylândia nunca pareceu mais absurda do que agora".
Jackson Puff, 38, é diretor de arte e vive em San Francisco (Califórnia) desde 1997
Arquivo pessoal |
Mirian Oliveira morava na época em Miami,nos EUA, e estava na sua loja de moda praia quando o ataque ocorreu |
"Morava na época em Miami, estava na nossa loja de moda praia. Não estava com a TV ligada, então não sabia o que estava acontecendo. Mas me lembro bem que, em Miami Beach, as ruas são sempre movimentadas, mas naquele dia estava tudo tão quieto, nenhum carro na rua. Estava tudo tão estranho, o ar estava estranho, quando de repente o telefone toca. Era minha filha Miriane, que morava em Brasília, dizendo que minha mãe estava chorando porque estava morrendo muita gente e as pessoas pulando de um prédio. Não entendi nada e disse: "Ah! deve ser especulação, não está acontecendo nada, esse povo fala demais!" Mas ela disse: "Mamãe é sério! Liga a TV! Quando liguei, vi na CNN as horríveis cenas de terror nas Torres Gêmeas. Por isso o silêncio total nas ruas, todos chocados e sem ação. Foi muito triste!"
Mirian Oliveira, é de Brasília e morava em Miami no 11/9
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