Após morte de Gaddafi, Otan deve encerrar missão na Líbia
A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) decidiu formalmente encerrar na segunda-feira (31) a operação de sete meses na Líbia, apesar dos pedidos do governo de transição líbio para que prossiga com as operações aéreas até o final deste ano, informou nesta sexta-feira uma fonte diplomática.
"Fim da operação em 31 de outubro, decidida por unanimidade", afirmou o diplomata à France Presse, depois de uma reunião em Bruxelas do Conselho do Atlântico Norte, a instância dirigente da aliança atlântica, ampliada aos representantes de cinco países não-membros --Qatar, Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Jordânia e Suécia.
Abdullah Doma/France Presse | ||
Líbios durante discurso do líder do Conselho Nacional de Transição; Otan deve encerrar missão na Líbia |
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, fará um anúncio oficial ainda nesta sexta-feira.
Na sexta-feira passada (21), após a morte do ex-ditador líbio Muammar Gaddafi, a Otan já havia tomado a decisão provisória de encerrar a operação no dia 31 de outubro.
"Há uma semana, tomamos a decisão preliminar de colocar fim a nossa operação militar na Líbia. Amanhã confirmaremos esta decisão", havia indicado Rasmussen ontem à noite em Berlim. "Já cumprimos totalmente nossa missão", acrescentou.
Rasmussen disse que não vê a organização desempenhando um papel importante na Líbia, mas que, se o novo governo líbio pedir, pode ajudar na transição democrática.
FILHO DE GADDAFI
Também hoje, o promotor do TPI (Tribunal Penal Internacional) afirmou que mantém "contatos informais" com Saif al Islam, um dos filhos de Gaddafi, sobre sua possível rendição ao Tribunal, que o procura por crimes contra a Humanidade.
Paul Hackett/Reuters | ||
Saif al Islam, filho de Muammar Gaddafi, estaria em contato informal com o TPI |
"Estamos em contato informal com Saif através de intermediários", declarou o promotor Luis Moreno Ocampo, citado em um comunicado. "O gabinete do promotor disse claramente que, se ele se render ao TPI, terá direito de ser ouvido ante ao tribunal e será inocente até que se prove o contrário".
Geralmente apresentado como o futuro sucessor do pai, Saif al Islam ("Espada do Islã" em árabe) é o primeiro filho de Gaddafi com a segunda mulher, Safiya Farkash. Tendo prometido "banhos de sangue" no início das revoltas contra o regime líbio, atualmente é procurado pelo TPI por crimes contra a humanidade.
Ele está sendo procurado desde que as forças do governo interino líbio na quinta-feira (20) tomaram controle da cidade de Sirte, terra natal de seu pai, operação na qual também capturou Gaddafi, que acabou sendo morto.
FUGA PARA O NÍGER
No entanto, segundo o jornal francês "Le Figaro", Islam entrou nesta quinta-feira no Níger graças à proteção de um chefe tuaregue rebelde.
Segundo fontes não identificadas pela publicação, o filho do ditador líbio havia se escondido no sul da Líbia antes de atravessar a fronteira com o Níger graças à ajuda de Agaly Alambo, chefe do Movimento Nigerino para a Justiça.
As diversas mensagens de Saif sobre sua vontade de se entregar ao TPI (Tribunal Penal Internacional) teriam sido uma manobra para ficar fora do alcance do CNT (Conselho Nacional de Transição líbio), de acordo com o "Le Figaro".
Segundo o jornal, no mês passado Agaly Alambo -- a quem o "Le Figaro" entrevistou por telefone no domingo passado -- tinha se encarregado de retirar da Líbia o terceiro filho do ex-ditador líbio, Saadi Gaddafi.
INVESTIGAÇÃO DA MORTE
A família de Gaddafi estuda processar a Otan por "crime de guerra" no TPI de Haia pela morte em Sirte do ex-dirigente líbio, afirmou à France Presse o advogado francês Marcel Ceccaldi.
O advogado disse que a morte foi provocada "pelos disparos da Otan contra o comboio de Muammar Gaddafi, que depois foi executado".
Depois de escapar de Trípoli no fim de agosto, Gaddafi, 69, que durante 42 anos governou a Líbia com mão de ferro, foi capturado no dia 20 de outubro perto da cidade de Sirte (360 km ao leste de Trípoli), linchado e morto a tiros em circunstâncias que ainda não foram esclarecidas.
Gaddafi foi enterrado na madrugada de terça-feira (25) em um local secreto, mas a morte ainda provoca polêmicas.
O CNT líbio (Conselho Nacional de Transição, órgão político do novo regime) afirma que o ex-ditador morreu com um disparo na cabeça durante um tiroteio. Mas testemunhas e vídeos gravados no momento da detenção levantam as suspeitas de uma execução sumária.
Organizações internacionais, incluindo a ONU, pediram uma investigação. O CNT anunciou a formação de uma comissão para investigar o caso.
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