Ministro palestino diz que governo dá apoio à iniciativa de fertilização
Mesmo que haja desenvolvimento econômico e ampliação do controle palestino na Cisjordânia, "ainda assim, o processo de paz vai emperrar se nossos filhos continuarem detidos", diz Issa Qaraqe, ministro palestino de Assuntos de Cativos e Libertos.
Ele recebe a Folha em Belém para discutir essa questão que, afirma, "representa um valor cultural palestino".
"O povo tem um nível de identificação muito mais próximo com os prisioneiros do que com o muro e os assentamentos", afirma Qaraqe.
Procurada pela reportagem, a autoridade penitenciária israelense não quis comentar o caso específico de Yigal Amir, citado pelo ministro durante a entrevista.
Mas uma porta-voz confirmou que, ao contrário dos prisioneiros palestinos, o assassino de Yitzhak Rabin teve o direito de se casar na prisão e também de receber visitas íntimas da mulher.
FOLHA - Um médico palestino diz que participa de esquema de contrabando de sêmen para engravidar mulheres de prisioneiros. O que o sr. pensa?
Issa Qaraqe - Apoio esse ato. Mas o processo ainda ocorre pelas costas das autoridades israelenses. Os prisioneiros transportam o sêmen secretamente. Se pegos, terão de enfrentar sentenças mais longas.
Qual é a importância política dos prisioneiros palestinos?
Eles representam um valor cultural. É um dos primeiros passos para criar uma paz justa. Manter palestinos nas prisões israelenses é sinal de que a ocupação dos territórios irá continuar.
A independência palestina está relacionada à prática da liberdade. Nosso esforço é representado pelos que estão atrás das grades das prisões.
Há um valor emocional?
Sim. A questão está relacionada ao sofrimento do povo e dos que têm conexões com os prisioneiros. Todo tipo de passo no processo político que ignore a liberdade dos prisioneiros não terá valor para a população.
Caso haja desenvolvimento econômico, caso áreas passem para controle palestino, -ainda assim o processo de paz vai emperrar se nossos filhos continuarem na prisão.
Palestinos chamam em árabe um homem preso de "cativo", e não "prisioneiro". Israel diz que são "terroristas". Há uma divergência de visões?
É claro. Os israelenses não os reconhecem como prisioneiros políticos; para eles, são criminosos. Como povo, consideramos esses homens guerreiros da liberdade. São pessoas que deram a vida pela causa. Nós nos recusamos a tratá-las como terroristas.
O sr. acredita que o tratamento a prisioneiros palestinos e israelenses seja igualitário?
Não. Existe discriminação. Os judeus são mais bem tratados. Yigal Amir [que assassinou o ex-premiê israelense Yitzhak Rabin em 1995] casou-se dentro da prisão e recebe visitas íntimas.
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