Parque estopim de protestos é ilha verde em Istambul
Uma pequena ilha verde se destaca entre o cinza de prédios antigos da região central de Istambul. O parque Gezi, única área pública arborizada da região, é frequentado por pessoas de todas as faixas etárias, principalmente universitários que buscam um espaço de tranquilidade em meio ao caos urbano.
Não à toa, a população se revoltou com o projeto de perder um pedaço do parque para um possível shopping. Da defesa do Gezi nasceu a onda de manifestações contra o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan.
O local onde hoje fica o Gezi tem um significado histórico para os turcos. Ali havia um grandioso quartel da época do Império Otomano, construído em 1806. Durante o governo do fundador da República da Turquia, Mustafa Kemal Atatürk, o arquiteto francês Henri Prost foi contratado para remodelar a área vizinha à praça Taksim.
O quartel acabou demolido e, em 1943, o parque foi inaugurado, com cerca de 300 mil metros quadrados --pouco menos de um quinto da área do parque Ibirapuera. Recebeu o nome do segundo presidente turco, Ismet Inönü. Mas Inönü não era um líder popular, e mais tarde o local passou a se chamar Gezi, "passeio" em turco.
O projeto que causou a indignação dos moradores incluía a reconstrução do quartel otomano, que abrigaria um centro de compras. Erdogan negou a intenção de usar a réplica para fins comerciais.
Segundo críticos da obra, dezenas de árvores seriam cortadas, algumas com até 12 metros de altura. Numa cidade cujo índice de área verde por habitante é de 6,4 metros quadrados (a maioria das grandes cidades europeias tem índice acima de 20), essas árvores ganham uma importância ainda maior.
Para alguns manifestantes, Erdogan só mencionou a ideia de construir uma mesquita na área do parque como esforço para ganhar maior apoio de eleitores religiosos. "Aqui ninguém está falando de religião. Só queremos nossa liberdade, e estamos unidos", disse Nuray, que preferiu não dar o sobrenome.
O clima geral no parque entre os manifestantes é de respeito à natureza. De madrugada, quando parte deles deixa o local, os que ficam acampados tratam de limpar e tirar todo o lixo.
Canteiros de flores permanecem intactos. O único sinal de vandalismo dentro do parque são os muros, que desde a última sexta-feira têm sido cobertos com grafite contendo várias mensagens. Entre elas, em letras garrafais de laranja intenso, as palavras "Tayyip Istifa!", ou "Tayyip, renuncie!".
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