Iraque reclama de omissão do Brasil na luta contra facção terrorista
Diplomatas e autoridades iraquianos reclamam que o Brasil tem sido omisso na luta contra o Estado Islâmico (EI). O país não colabora com ajuda humanitária, treinamento ou armas.
"O Brasil forneceu armas pesadas para [o ex-ditador iraquiano] Saddam Hussein, e sofremos com isso; está na hora de nos ajudar na luta contra o EI", disse à Folha Amin Najar, líder do KDP (partido à frente do Governo Regional do Curdistão, no norte do Iraque). O Exército curdo (peshmerga) está na linha de frente na guerra contra o EI no norte do Iraque.
Najar se referia aos blindados Cascavel e armamentos que o país vendeu ao Iraque durante a guerra contra o Irã –no fim do conflito (1980-1988), Saddam atacou os curdos até com armas químicas.
Ao ouvirem falar de Brasil, todos os militares curdos entrevistados pela Folha mencionaram as armas que o país forneceu a Saddam.
"Não sabemos qual é a posição do Brasil em relação ao EI; é um absurdo um país com ambições globais não se posicionar sobre um tema como este", disse um diplomata iraquiano que pediu anonimato.
"A Alemanha nos ajuda com armas, treinamento e auxílio humanitário; os EUA também. E o Brasil? Não faz nada diante de meninas de 12 anos sendo estupradas e jornalistas decapitados?"
Mais de 60 países auxiliam os iraquianos na luta contra o EI. A Áustria doou US$ 1,3 milhão em ajuda humanitária. Além de participar dos ataques da coalizão contra o EI, o Canadá enviou mais de US$ 50 milhões em ajuda humanitária e militar.
A França mandou 65 toneladas de ajuda humanitária, participa dos bombardeios e fornece armas.
ITAMARATY
Em e-mail enviado à Folha, o Itamaraty informou que as autoridades iraquianas não pediram ao Brasil cooperação no combate ao terrorismo nem manifestaram insatisfação com as relações bilaterais.
"Pelo contrário, as autoridades iraquianas agradeceram ao Brasil pela manutenção das atividades da embaixada brasileira em Bagdá e pela condição do Iraque como fornecedor privilegiado de petróleo ao Brasil."
O ministério afirma que o governo brasileiro está "considerando" solicitações de ajuda humanitária feitas por organismos internacionais, como o Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (Unocha) e a Missão de Assistência das Nações Unidas para o Iraque (Unami).
"A cooperação brasileira no combate ao terrorismo tem privilegiado antes aspectos como o acolhimento de refugiados, como no caso da Síria e do Iraque, que a concessão de armas e recursos financeiros e a vertente militar de treinamento", diz o Itamaraty.
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