ANÁLISE
O papa prega uma revolução
A encíclica do papa Francisco vai muitíssimo além dos enfoques habituais em torno das mudanças climáticas, ao propor à humanidade uma verdadeira revolução pela qual ela se liberte do modelo consumista em vigor, que vampiriza os recursos do planeta.
No fundo, o que o papa está propondo é um diálogo global em torno de um velho slogan de entidades ambientalistas e sociais, o de que "um outro mundo é possível".
É claramente uma crítica ao capitalismo, o que só fará aumentar o coro dos conservadores, dentro e fora do Vaticano, para os quais Francisco não passa de um comunista de batina.
Tolice que o próprio papa já tratou de responder, ao assinalar que "a tradição cristã nunca reconheceu como absoluto ou intocável o direito à propriedade privada e sublinhou a função social de qualquer forma de propriedade privada".
Que essa função social está sendo desrespeitada dá testemunho o fato de que até um dos grandes símbolos do cristianismo - o rio Jordão em que Jesus foi batizado, segundo a tradição cristã - está tão poluído que causa "sérios riscos de saúde" às 500 mil pessoas que o visitam anualmente.
É o que acaba de denunciar, coincidentemente com a encíclica papal, a EcoPeace, entidade ambientalista do Oriente Médio.
Trata-se da comprovação, no detalhe, da correção da encíclica quanto alude ao risco de que "às próximas gerações poderíamos deixar-lhes demasiados escombros, desertos e sujeira".
A proposta do papa é batizada de "humanismo ecológico" por Christiana Peppard, professora-assistente de Teologia, Ciência e Ética da Fordham University, em artigo para "The Washington Post".
Seria também "uma visão moral em um mundo perturbado por tentações tecnológicas e econômicas".
Funcionará? "A encíclica ajudará a difundir e aprofundar uma mentalidade, mas não fará milagres", diz o biólogo e sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, Coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Prudência necessária porque, acrescenta Ribeiro Neto, ainda que o texto sirva de inspiração, "é preciso a mudança de atitude das pessoas".
Seria de fato uma revolução, algo sabidamente muito difícil de se realizar.
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