Netanyahu é criticado após dizer que Holocausto foi sugestão palestina

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Numa declaração que gerou críticas imediatas tanto de lideranças palestinas como israelenses, o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, disse na noite de terça (20) que o Holocausto teria sido ideia de um religioso palestino, e não do ditador alemão Adolf Hitler.

Segundo Netanyahu, Haj Amin al-Husseini, grão-mufti de Jerusalém entre 1921 e 1937, teria orientado Hitler durante uma viagem a Berlim, em 1941.

"Hitler não queria exterminar os judeus naquela época, ele queria expulsar os judeus", disse Netanyahu. "E Haj Amin al-Husseini disse a Hitler: 'Se você expulsá-los, eles virão todos para cá'", completou.

Na versão de Netanyahu, o ditador alemão teria perguntado, na sequência, o que deveria fazer então com os judeus. "Queimá-los", teria respondido o líder religioso palestino, segundo o premiê israelense.

Nesta quarta-feira (21), antes de embarcar para a Alemanha, Netanyahu comentou a repercussão sobre sua declaração e disse ser "absurdo" ignorar o papel do grão-mufti no holocausto.

"Eu não tive a intenção de absolver Hitler de sua responsabilidade, mas de mostrar que o pai da nação palestina queria destruir os judeus mesmo sem haver ocupação", disse.

Durante o Holocausto, anterior à criação do Estado de Israel, o território da Palestina estava sob mandato britânico.

A declaração de Netanyahu foi feita durante o 37º Congresso Sionista Mundial, em Jerusalém, momentos antes de o premiê dividir o palco com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

MERKEL

Em entrevista coletiva ao lado de Netanyahu em Berlim, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que a responsabilidade pelo Holocausto é alemã.

"Por isso não vemos nenhuma razão para mudar nossa visão sobre a história e, especialmente, sobre esta questão", afirmou Merkel.

Netanyahu, por sua vez, disse estar "muito claro" que Hitler foi o responsável pelo "aniquilamento de seis milhões de judeus", mas também que o líder palestino "aprovou a solução final".

Ao lado do premiê, Merkel ainda afirmou que os assentamentos israelense são "contraproducentes" e instou israelenses e palestinos a acabarem com a violência.

Crédito: Wikimedia Commons Haj Amin al-Husseini e Adolf Hitler, em imagem de dezembro de 1941. Crédito Wikimedia Commons
Al-Husseini e Hitler, em foto de 1941

FIM POLÍTICO

O secretário-geral da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), Saeb Erekat, lamentou o discurso de Netanyahu e disse que o premiê deveria parar de "usar essa tragédia humana para angariar pontos para um fim político".

"É um dia triste na história, quando um líder do governo israelense odeia tanto seu vizinho que quer absolver o criminoso de guerra mais notório na história, Adolf Hitler, do assassinato de seis milhões de judeus", disse Erekat, que é o principal negociador palestino com os israelenses.

O líder da oposição, Isaac Herzog, disse que a declaração foi uma "distorção histórica perigosa" que pode favorecer nagacionistas do Holocausto.

Até o ministro de Defesa israelense, Moshe Yaalon, que é muito próximo a Netanyahu, rechaçou a declaração. "Certamente não foi [Husseini] que inventou a 'Solução Final'", disse Yaalon à rádio do Exército. "Foi uma ideia maligna do próprio Hitler."

Dina Porat, principal historiadora do Yad Vashem, museu sobre o Holocausto de Jerusalém, considerou equivocada a declaração de Netanyahu.

"Embora tivesse posições antissemitas muito extremadas, não foi o mufti que deu a Hitler a ideia de exterminar os judeus", disse ela à agência de notícias AFP. "Esse ideia foi muito anterior ao encontro entre ambos em novembro de 1941. Em um discurso no Reichstag (antigo Parlamento alemão), em 30 de janeiro de 1939, Hitler já menciona 'um extermínio da raça judia'.

A declaração de Netanyahu ocorre em um momento de tensão entre israelenses e palestinos. Nas últimas semanas, ataques e confrontos mataram ao menos dez israelenses e 40 palestinos, muitos dos quais identificados como agressores.

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