Relação entre Arábia Saudita e Irã tem histórico problemático; entenda
Neste domingo (3), a Arábia Saudita anunciou rompimento das relações diplomáticas com o Irã, após a execução do proeminente clérigo xiita Nimr al-Nimr.
Não é a primeira vez que a relação entre os dois países, rivais na região, fica estremecida. Confira, abaixo, outros episódios.
CONFRONTO E MORTES EM MECA
Em 31 de julho de 1987, 402 peregrinos —entre os quais 275 iranianos—, morreram durante um confronto entre forças de segurança sauditas e manifestantes que protestavam contra os Estados Unidos na cidade sagrada de Meca.
Após as mortes, protestos tomaram as ruas de Teerã, a embaixada da Arábia Saudita foi invadida e a do Kuait, incendiada.
Um diplomata saudita, Mousa'ad al-Ghamdi, caiu de uma das janelas da embaixada durante a invasão e morreu devido aos seus ferimentos. Riad acusou o governo de Teerã de atrasar a sua transferência a um hospital saudita.
Em abril de 1988, as relações diplomáticas entre os dois países, que já estavam tensas desde a Revolução Iraniana, em 1979, foram rompidas pelo rei saudita Fahd.
NOVO PRESIDENTE, NOVOS TEMPOS
Em 2001, o rei Fahd veio a público para parabenizar Mohammad Khatami por sua reeleição como presidente do Irã, dizendo que apoiava suas intenções reformistas.
Atta Kenare/AFP | ||
Presidente Mohammad Khatami discursa durante parada militar, em 1998 |
Khatami, clérigo xiita, trabalhava para a reaproximação dos dois países desde 1997, quando chegou ao cargo. Em 1999, Khatami havia feito a primeira visita de um presidente iraniano à Arábia Saudita desde a Revolução.
A melhora de relações foi selada com um pacto de segurança, em abril de 2001.
INVASÃO DO IRAQUE
A invasão do Iraque e a subsequente queda do ditador Saddam Hussein (sunita) levou o poder às mãos da maioria xiita e mudou o alinhamento político do país em direção ao Irã.
Faleh Kheiber/Reuters | ||
Crianças exibem livros escolares com fotografia de Saddam Husseim, em Bagdá, no Iraque, em 2002 |
O programa nuclear iraniano aprofundou temores da Arábia Saudita de que o sucessor de Khatami, Mahmoud Ahmadinejad, tentaria aumentar a influência do Irã na região do golfo Pérsico e de grupos xiitas.
Em janeiro de 2007, a Arábia Saudita disse ao enviado iraniano ao país que o Irã estava colocando a região em perigo, em referência ao conflito do país persa com os Estados Unidos em relação ao Iraque e seu programa nuclear.
PRIMAVERA ÁRABE
Em 2011, com a Primavera Árabe, a Arábia Saudita enviou soldados ao Bahrein para reprimir protestos a favor da democracia, temendo que a oposição xiita, se chegasse ao poder, se alinharia ao Irã. Mais tarde, Bahrein e Arábia Saudita acusaram o Irã de fomentar a violência contra forças policiais.
Informações reveladas pelo WikiLeaks mostraram, mais tarde, que líderes sauditas, como o rei Abdullah, pressionaram Washington na época por uma posição mais dura contra o programa nuclear iraniano, inclusive com ações militares.
No mesmo ano, a Arábia Saudita acusou grupos xiitas, incluindo o proeminente clérigo xiita Nimr, executado no sábado (2), de cooperar com países estrangeiros —em referência ao Irã— para estimular a dissidência, após choques entre a polícia e xiitas.
Washington na mesma época anunciou ter descoberto um suposto complô do Irã para assassinar o embaixador saudita nos Estados Unidos —Adel al Jubeir, atual ministro de Relações Exteriores saudita.
Teerã rejeitou as acusações, mas a Arábia Saudita disse que o país pagaria pelo ato.
GUERRA POR PROCURAÇÃO
Em 2012, a Arábia Saudita se tornou o principal aliado de rebeldes que lutavam para a derrubada do ditador sírio, Bashar al-Assad, aliado do Irã. Riad acusou Teerã de ser cúmplice de um genocídio, e Teerã disse que os sauditas estavam intervindo em assuntos domésticos sírios e financiando facções terroristas no país.
Em março de 2015, a Arábia Saudita deu início a uma campanha militar no Iêmen contra rebeldes houthis, apoiados pelo Irã. Riad acusa Teerã de apoiar um golpe de Estado, e Teerã afirma que os ataques aéreos sauditas no país vem vitimando a população civil.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis