Acordo de Paris é só 'tinta em papel', diz representante da União Europeia
A assinatura do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, nesta sexta (22), em Nova York, é apenas "tinta em papel" e os países signatários devem se mobilizar para por os termos em prática, alerta o embaixador da União Europeia no Brasil, João Cravinho.
O acordo inédito foi aprovado em dezembro pela conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas) em Paris. O instrumento obriga todos os países signatários da convenção do clima (1992) a adotarem medidas de combate à mudança climática.
Joel Silva - 16.nov.2015/Folhapress | ||
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O Embaixador da União Europeia no Brasil, João Cravinho, durante discurso em evento em São Paulo |
Estabelece uma meta coletiva de manter o aquecimento global abaixo de 2ºC em comparação com a época pré-industrial –patamar que pode evitar os piores efeitos sobre o clima, segundo cientistas–, na direção de 1,5ºC.
A ONU diz esperar que 155 países assinem o acordo durante cerimônia nesta sexta (22) –o texto foi aprovado por delegados de 195 países.
"A assinatura é simpática, mas é só tinta em papel, não altera a vida de ninguém", disse à Folha Cravinho, que comemora o acordo. "A assinatura não é o fim de nenhuma caminhada, é o princípio."
O embaixador aponta os três passos seguintes necessários para o sucesso do documento: a ratificação pelos países, sua implementação e a revisão dos cenários a cada cinco anos. "Para manter o aquecimento do planeta abaixo dos 2ºC não basta fazer só o que está no Acordo de Paris, temos que usar a revisão para ir além", avalia Cravinho.
Ele ressalta a relevância da implementação do acordo pelos EUA e pela China, os maiores emissores de gases do efeito estufa. Sem eles, afirma, o acordo será fracassado.
Há quem receie uma mudança de curso dos EUA sobre clima com a saída do presidente Barack Obama da Casa Branca e a eleição, em novembro, de um presidente menos comprometido com o tema. Ou ainda por entraves com o Congresso e a Suprema Corte.
Ainda durante a negociação do acordo, em Paris, parlamentares republicanos deixaram claro que a implementação não será pacífica –ainda que não dependa da chancela do Legislativo do país.
"Dizer que a palavra dada pelo governo americano [na assinatura do acordo] não tem valor seria um profundo retrocesso que o Congresso americano imporia ao seu próprio governo", avalia Cravinho.
Nesta quarta (20), Mogens Lykketoft, eleito para presidir a 70ª sessão da assembleia-geral da ONU, disse à Reuters temer que o compromisso firmado em novembro pelo presidente Obama sofra uma "sabotagem". Lykketoft citou como preocupação tanto a substituição do juiz da Suprema Corte Antonin Scalia, morto em fevereiro, quanto o pleito de novembro.
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