Donald Trump gasta 10% da verba de campanha em suas próprias empresas
Concorrer a presidente dos Estados Unidos pode ser um bom negócio, ao menos se o seu nome for Donald Trump.
Em maio, US$ 1 em cada US$ 6 gastos por sua campanha voltou para empresas ou familiares seus, segundo relatório financeiro entregue à comissão eleitoral federal (FEC) na semana passada.
Brian Snyder/Reuters | ||
O virtual candidato republicano Donald Trump cumprimenta eleitores em Bangor, no Maine |
As despesas somam US$ 6,7 milhões, dos quais ao menos US$ 1,1 milhão foi embolsado por companhias ou indivíduos chamados Trump.
Desde o começo da campanha, em 16 de junho de 2015, até 31 de maio, a fatura chegou a US$ 63 milhões —10% investidos no império empresarial do virtual candidato republicano à Casa Branca.
A maior conta: US$ 423 mil no Mar-a-Lago, resort na Flórida onde Trump passa férias, descrito em seu site como "a maior de todas as mansões, [...] opulenta e majestosa".
Há recibos de todos os valores. Em 18 de março, a campanha pagou US$ 399 à Trump Ice, marca de água engarrafada do magnata. No mesmo dia, desembolsou US$ 29,7 mil com o bufê do clube de golfe no palacete da Flórida, que cobra US$ 100 mil para filiar novos sócios.
O Trump Grill, restaurante na Trump Tower que serve o Filé Quinta Avenida (US$ 28) e o Hambúrguer Gold Label (US$ 19), apresentou notas somando US$ 607.
A vinícola que o filho Eric Trump comprou na Virginia em 2011, e que oferta vinhos com Trump no rótulo a partir de US$ 16, recebeu US$ 4.991.
Os desembolsos em benefício próprio renderam críticas de Hillary Clinton, sua adversária democrata: "No que Trump gasta seus escassos recursos? Nele mesmo, claro".
A manobra não é ilegal e já foi aplicada por outros. Em três campanhas para prefeito de Nova York, Michael Bloomberg torrou cerca de US$ 250 milhões (equivalente ao custo do blockbuster "Capitão América: Guerra Civil") da própria fortuna. Abateu parte da dívida usando serviços de suas corporações.
Na última quinta (23), Trump anunciou que doaria quase US$ 50 milhões à sua campanha. A verba aparecia antes como empréstimo.
"Os comitês eleitorais não são obrigados a abrir licitação, como uma agência governamental", disse à Folha Michael Malbin, presidente do centro de estudos Campaign Finance Institute.
O autofinanciamento, para ele, extingue dilemas éticos. "Só haveria problema se Trump usasse contribuições de outras pessoas para pagar suas próprias empresas."
Paul Seamus Ryan, diretor-executivo do Campaign Legal Center, afirma que um candidato é obrigado por lei a remunerar empresas, ainda que suas. "Parece que ele está reciclando seu dinheiro."
A habilidade de Trump em "reciclar" suas finanças não é nova. De 1991 a 2014, seus três cassinos em Atlantic City entraram com pedido de falência quatro vezes. É o nome de Trump que se destaca nos luminosos, mas, pessoalmente, ele aplicou pouco no negócio e faturou milhões com salários e bônus –o ônus coube a investidores.
Ao "New York Times", gabou-se da "grana incrível" obtida na empreitada e disse que isso é o que importava.
Em 2000, já com a Casa Branca em mente, afirmou à revista "Fortune" que "possivelmente poderia ser o primeiro presidenciável a lucrar com a pleito". Para ele, talvez seja o que mais importa.
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