Presos suspeitos de participar de golpe na Turquia chegam a 6.000
A Turquia ampliou a retaliação a suspeitos de terem apoiado a tentativa de golpe militar contra o presidente Recep Tayyip Erdogan, elevando o número de detidos nas Forças Armadas e no Judiciário para 6.000 neste domingo (17).
Na noite de sexta (15), parte do Exército iniciou um levante contra o governo que deixou ao menos 294 mortos, sendo 104 suspeitos de participação, segundo o balanço mais recente. No sábado (16), houve ainda enfrentamentos entre soldados golpistas e forças do governo, mas, segundo autoridades turcas, a situação foi controlada.
Em discurso neste domingo, durante uma homenagem para as vítimas, Erdogan prometeu continuar a limpar o "vírus" de todas as instituições do Estado. O presidente chorou no funeral de seu marqueteiro, Erol Olcak, que foi morto com o filho de 16 anos durante o levante.
Durante a madrugada, uma multidão de apoiadores de Erdogan gritou pelo enforcamento dos suspeitos durante uma vigília nas ruas que lotou a praça Taksim, no centro de Istambul. Há três anos, o local foi cena de grandes protestos antigoverno.
Os apoiadores de Erdogan, hasteando bandeiras turcas, também reuniram-se do lado de fora dos portões de seu palácio presidencial na cidade, onde voltaram a evocar a pena de morte.
Erdogan respondeu à multidão que o pedido seria ouvido. A pena de morte foi abolida no país em 2004, no contexto da candidatura de adesão de Ancara à União Europeia.
Erdogan acusa o líder religioso Fethullah Gulen de ter articulado o golpe por meio de sua influência no Judiciário, nas Forças Armadas e na mídia. Gulen, que vive nos EUA, negou envolvimento e chegou a sugerir que a tentativa de golpe teria sido orquestrada pelo próprio presidente.
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou que o país pode considerar a extradição de Gulen se a Turquia apresentar provas de seu envolvimento.
Bulent Kilic/AFP | ||
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, chora durante funeral de vítimas da tentativa de golpe |
REPERCUSSÃO
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lembrou a Turquia da "necessidade vital" de que todas as partes interessadas "atuem no âmbito do Estado de Direito".
O chanceler francês, Jean-Marc Ayrault, declarou, que a tentativa de golpe não é "um cheque em branco" para o presidente turco. "Queremos que o Estado de Direito funcione plenamente na Turquia", afirmou na televisão.
Segundo ele, Bruxelas deve pedir nesta segunda (18) que a Turquia siga os "princípios democráticos da Europa" ao punir os suspeitos de conspirar contra o Estado.
O presidente russo, Vladimir Putin, telefonou neste domingo a Erdogan e desejou um rápido retorno à estabilidade. O presidente turco deverá se reunir na primeira semana de agosto com Putin, segundo a agência de notícias turca. Será o primeiro encontro entre os dois chefes de Estados desde a crise bilateral em novembro, quando um caça russo foi abatido pela Turquia perto da fronteira síria.
PRISÕES
Entre os cerca de 3.000 militares presos, está Ali Yazici, um oficial que atuava como uma espécie de assistente de Erdogan para fins militares, segundo a CNN turca.
Também foi preso o general Bekir Ercan Van, que comandava a base aérea de Incirlik, de onde saem ataques aéreos da coalizão comandada pelos Estados Unidos que luta contra o Estado Islâmico.
Segundo o Pentágono, a coalizão retomou os voos depois que a Turquia reabriu seu espaço aéreo neste domingo. A base de Incirlik, porém, continuava operando com geradores, depois que o governo turco cortou o fornecimento de energia.
Autoridades turcas suspeitam que a base tenha sido usada para reabastecer aviões utilizados pelos golpistas, elevando a tensão entre os Estados Unidos e a Turquia.
Entre os detidos também estão Erdal Ozturk, comandante do Terceiro Exército, e Adem Huduti, do Segundo.
Fotos em redes sociais mostravam soldados detidos vestindo apenas cuecas, algemados e deitados no chão de um estádio esportivo em Ancara.
GRÉCIA
Os oito soldados turcos que fugiram no sábado para a Grécia em um helicóptero militar serão julgados por entrada ilegal no território grego e violação do espaço aéreo, informou a advogada do grupo.
Os oito, que pediram asilo na Grécia, insistem que não participaram da tentativa de golpe, mas foram detidos e deverão comparecer no tribunal na segunda-feira. No sábado, o governo turco pediu às autoridades gregas a extradição dos soldados.
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