Presidente da Nicarágua faz manobra e elimina oposição no Congresso
O Supremo Conselho Eleitoral da Nicarágua destituiu, nesta sexta (29), os 16 deputados opositores que havia no Congresso do país, em mais uma manobra do regime do presidente Daniel Ortega para afastar a oposição das próximas eleições presidenciais e legislativas, marcadas para o próximo dia 6 de novembro.
Em junho, após anunciar sua candidatura a um terceiro mandato consecutivo –em 2014, Ortega impulsionou uma reforma à Constituição que garantiu a reeleição indefinida–, o presidente, no cargo desde 2007, informou que não serão permitidas as presenças de observadores internacionais no pleito e impediu a representação legal da principal aliança opositora, encabeçada pelo PLI (Partido Liberal Independente).
Alfredo Zuniga/AFP Photo | ||
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, durante celebração do 37º aniversário da revolução sandinista |
Com esse movimento, a liderança do partido passou de Eduardo Montealegre, um político crítico do ex-líder sandinista, para Pedro Reyes, alinhado ao governo. Desde então, Reyes tinha a tarefa de obter o apoio dos 16 deputados para o presidente. Como não conseguiu, acionou o Conselho e obteve a expulsão dos parlamentares por "desobediência" à liderança do partido.
Segundo o jornal local "El Confidencial", independente, esses deputados vinham denunciando arbitrariedades de Ortega e o que consideravam uma manipulação para que o presidente vença sem dificuldades a eleição de 6 de novembro, com um Congresso totalmente alinhado ao governo.
Devido a essas manobras, as demais legendas de oposição já haviam anunciado que não participarão das eleições.
Depois da decisão desta sexta (29), dirigentes da sigla opositora MRS, formada por dissidentes da Frente Sandinista e liderados pelo ex-vice-presidente e escritor Sergio Ramirez, lançaram um comunicado público dizendo que o Congresso foi "liquidado com a saída dos deputados opositores".
O ex-líder do PLI, Eduardo Montealegre, declarou à imprensa local: "Podem destituir a todos e nos tirarem o partido, mas não vão tirar nossa dignidade".
Espera-se para os próximos dias que Ortega defina seu companheiro de chapa como vice-presidente. O mandatário tem apontado preferência pela própria mulher, Rosario Murillo, ex-guerrilheira como ele e que vinha atuando como porta-voz do governo. Alguns dos filhos de Ortega são os presidentes das principais estatais nicaraguenses. O prazo para a escolha da chapa é o próximo dia 2 de agosto.
Até a conclusão desta edição, não havia reação nas ruas.
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