Declarações de Trump causam mal-estar com aliados da União Europeia

DIOGO BERCITO
DE MADRI
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Uma série de declarações de Donald Trump, presidente eleito dos EUA, causou mal-estar com aliados europeus na segunda-feira (16), quatro dias antes de sua posse.

Trump falou ao jornal alemão "Bild" e ao britânico "Times", suas primeiras entrevistas com veículos europeus desde sua eleição, em novembro do ano passado.

Ele criticou a Otan (aliança militar ocidental) e a entrada de refugiados na Alemanha. Por outro lado, o presidente eleito elogiou a recente decisão britânica de deixar a União Europeia.

Trump será o primeiro líder americano desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a não apoiar o projeto de integração europeia, segundo o diário americano "Washington Post".

Em relação à Otan, por exemplo, o republicano afirmou que é obsoleta porque não enfrenta o terrorismo.

Ele também disse que os membros da aliança não contribuem de maneira justa, referindo-se ao quanto do orçamento diferentes países investem. Os EUA arcam com cerca de 70% dos gastos.

Trump disse ainda que a política alemã de abrir as fronteiras para refugiados foi um "erro catastrófico", em uma crítica à chanceler Angela Merkel, que ele descreveu, por outro lado, como uma "líder fantástica".

"Acho que ela cometeu um erro bastante catastrófico que foi receber todos esses 'ilegais', você sabe, receber todas as pessoas de onde quer que eles tenham vindo", disse. Quase 900 mil refugiados chegaram à Alemanha em 2015, a maior parte sírios.

Críticos do governo alemão relacionam a chegada de migrantes com ataques terroristas, como a morte de 12 pessoas em um mercado em Berlim, em dezembro.

Um porta-voz de Merkel disse que a chanceler "leu com interesse" as declarações de Trump. "Penso que nós, europeus, temos nosso destino em nossas próprias mãos", rebateu Merkel, que disse ainda que "separaria de modo claro [o terrorismo] da presença de refugiados da guerra civil síria".

John Kerry, em entrevista em meio a sua última viagem –para o Fórum Econômico de Davos, na Suíça– à frente da diplomacia americana, classificou como inapropriadas as declarações de Trump sobre a chanceler alemã.

"Ele terá que responder por isso", afimou Kerry. "A partir de sexta-feira será o responsável por essa relação diplomática."

François Hollande, por sua vez, disse que a União Europeia "não precisa de conselhos externos" para tomar decisões. "Afirmo aqui que a Europa estará sempre disposta a continuar com a cooperação transatlântica, mas esta será determinada em função de seus interesses e seus valores", afirmou Hollande, ao condecorar, em Paris, a embaixadora americana em fim de missão, Jane Hartley.

Fontes no governo alemão afirmaram às agências de notícias que Merkel planeja um encontro com Trump nos próximos meses. Eles conversaram apenas uma vez desde as eleições em 2016.

Mas o desgosto não ficou restrito à Alemanha. Frank-Walter Steinmeier, ministro alemão de Relações Exteriores, disse que chanceleres de outros países-membros da União Europeia estão receosos com as declarações de Trump.

O bloco também incomodou-se com as declarações de Trump defendendo a cobrança de impostos de 35% sobre montadoras de veículos, como a alemã BMW, caso produzam fora dos EUA.

Montadoras alemãs venderam aproximadamente 1,3 milhão de veículos nos EUA em 2016, segundo o "Washington Post".

'BREXIT'

Outro ponto polêmico da entrevista de Trump foi seu elogio ao "brexit", a decisão tomada pelo Reino Unido em junho de 2016 de deixar a União Europeia —causando uma crise interna e ameaçando o bloco europeu.

Ele prometeu oferecer um acordo de comércio ao Reino Unido após tomar posse para ajudar o "brexit" a ser uma "coisa grande". "O Reino Unido queria a sua própria identidade", disse Trump.

Theresa May, premiê britânica, deve detalhar algumas de suas propostas para a saída da União Europeia nesta terça-feira (17). A princípio, ela deve dar início à separação até o final de março, ativando o Artigo 50 do Tratado de Lisboa. O processo dura, a partir de então, dois anos.

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