O presidente chinês Xi Jinping saiu a um ataque sem trégua aos principais pontos de política internacional defendidos por seu futuro colega norte-americano, Donald Trump, sem, no entanto, mencioná-lo uma única vez pelo nome.
Foi durante o pronunciamento de abertura do encontro anual-2017 do Fórum Econômico Mundial, na manhã desta terça-feira (17), ante um auditório completamente lotado.
Foi muito aplaudido pelo público –formado basicamente pela elite empresarial do planeta– mas não recebeu a chamada "standing ovation" –quando o público se levanta e bate palmas sem parar para o conferencista (o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva mereceu a honraria, quando se apresentou em Davos em 2003).
Xi Jinping deixou claro que "a China manterá suas portas sempre abertas" e disse esperar que outros países também o façam.
É uma obvia alusão à promessa que Trump repete sempre de impor uma tarifa pesada às importações da China, se não obtiver concessões comerciais dos chineses.
NORMAS INTERNACIONAIS
Xi disse também que é preciso respeitar as normas internacionais, quando a maioria dos especialistas considera que a taxação com que Trump ameaça viola acordos.
O líder chinês disse que o enfoque chinês voltado para o exterior "é uma bênção para a humanidade".
O presidente lembrou que o "caminho da humanidade nunca foi fácil", mas alfinetou Trump, sempre sem mencioná-lo: "A saída não é atribuir a culpa aos outros".
Não faltou a defesa enfática do acordo de Paris sobre a mudança climática, outro ponto que Trump diz que pretende alterar, embora seja considerado o mais avançado entendimento para combater o aquecimento global.
Enquanto Trump faz, uma e outra vez, a defesa do que chama de "América primeiro", frase interpretada como uma crítica à globalização, coube a Xi fazer a defesa dela –uma defesa enfática, aliás, a ponto de considerá-la "o resultado natural da evolução científica".
ABERTURA
Não deixa de ser uma evidência dos tempos convulsos que o mundo atravessa o fato de um líder dos Estados Unidos, país que pode ser considerado o pai da globalização e do livre comércio, seja contestado pelo dirigente de uma China que, faz apenas 38 anos, era um país fechado.
O próprio Xi incumbiu-se de mencionar esse período de abertura e reformas datando-o de 38 anos para deixar claro que "a integração ao sistema econômico mundial justificou-se plenamente".
E, em outro recado indireto a Trump, disse que "gostemos ou não, a economia mundial é esse grande oceano de que ninguém pode fugir".
Com um inevitável toque oriental, acrescentou que trancar-se numa sala escura é inútil: "A tormenta continua lá fora, mas lá fica também a luz".
Xi Jinping não tratou, no entanto, de temas geopolíticos que também dividem os EUA de Trump e a China. Não falou nem dos avanços chineses no mar do Sul da China, criticados por autoridades norte-americanas, nem do aceno feito por Trump a Taiwan, a ilha que a China considera parte inalienável do seu território.
O discurso do presidente chinês –e os aplausos que mereceu da elite empresarial– demonstram que ele atingiu o objetivo de apresentar a China como o bom parceiro de um mundo turbulento.
Foi, de resto, a oportunidade ideal, levando-se em conta que os Estados Unidos mandaram a Davos apenas as figuras que estão no ocaso, o vice-presidente Joe Biden e o secretário de Estado John Kerry.
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