Em Davos, assessor diz que Trump exigirá simetria no comércio

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Donald Trump não quer uma guerra comercial com a China, mas exigirá acordos comerciais que sejam simétricos, no lugar dos assimétricos que supostamente prejudicaram os Estados Unidos nos últimos 71 anos.

Foi o que declarou o único membro da equipe Trump presente ao encontro anual 2017 do Fórum Econômico Mundial, Anthony Scaramucci.

Vai ser seu assessor de contato com a mídia, talvez a mais ingrata função no futuro governo, considerando-se a aversão que Trump sente pela mídia, retribuída na mesma medida pela maior parte dela.

O comentário de Scaramucci foi feito exatamente uma hora depois de o presidente chinês, Xi Jinping, desfechar críticas decididas ao protecionismo apregoado por Donald Trump durante toda a campanha.

Scaramucci explicou, primeiro, que a administração Trump pretende ter "uma muito forte relação bilateral com a China".

Depois, negou qualquer hipótese de guerra comercial –tema de inúmeros comentários a partir das ameaças do candidato de impor taxas pesadas às importações chinesas.

Por fim, acrescentou que o sistema internacional de comércio, moldado, segundo ele, principalmente pelos Estados Unidos, é assimétrico: permite a entrada livre de produtos estrangeiros nos EUA, que, no entanto, enfrentam barreiras de todos os tipos nas exportações para certos países.

Sempre segundo o assessor de Trump, essa assimetria fez com que 8 milhões de norte-americanos se transformassem de "classe média" em "classe pobre", pela perda de empregos industriais.

Governo Trump

A fala de Scaramucci, como era de se prever, foi um hino de amor a Donald Trump, que, segundo ele, tem "todos os elementos para ser um grande líder".

Admitiu, no entanto, que sua romântica visão do presidente eleito não combina com a de boa parte do público de Davos, especialmente dos jornalistas, mas também dos executivos, que formam a clientela preferencial do Fórum.

Scaramucci explicou a vitória de Trump a partir de sua própria história pessoal: contou que seu pai, operário, tinha a aspiração de ver o filho (ou os filhos) em melhor situação do que ele, tanto que insistiu para que estudasse (formou-se em Direito em Harvard, escola de elite).

Hoje em dia, esse desejo, de parte de pais da classe trabalhadora, já não consegue mais ser posto em prática.

Trump teria intuído essa situação, melhor do que o próprio Scaramucci, apesar de ser um bilionário e não um filho da classe operária.

Endeusamento à parte, Scaramucci deu uma pista preciosa para tentar entender a cabeça do presidente prestes a assumir. Usou as críticas à Otan, a aliança militar ocidental, para mostrar como Trump pensa: "ele é um empreendedor, e sempre raciona em função do que acha que funciona ou não.

No caso da Otan, a mais recente vítima do mau humor de Trump, a crítica é ao fato de que sua arquitetura estaria "obsoleta": foi criada como dique de contenção da União Soviética, para evitar que o comunismo avançasse pela Europa, carregado pelas tropas soviéticas.

Esse perigo já não existe, uma opinião que não é compartilhada por todos os líderes europeus, mas prevalece entre o pessoal de Trump.

Logo, é preciso decidir se bastar mudar a "arquitetura" da Otan ou ela de fato é prescindível, sob essa ótica empresarial.

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