Alemanha se une às críticas à política protecionista de Trump

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

A Alemanha somou-se à crítica ao protecionismo esboçado ao longo de toda a campanha de Donald Trump e já feita na terça-feira (17) pelo presidente da China, Xi Jinping.

A crítica alemã veio pela voz de seu todo poderoso ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, durante debate no Fórum Econômico Mundial em Davos nesta quinta-feira (19).

Crédito: Thierry Charlier - 14.jul.2015/AFP German Finance Minister Wolfgang Schauble gives a press conference at the end of an EU Eco-Finance meeting at the EU Council building in Brussels, July 14, 2015. AFP PHOTO / THIERRY CHARLIER ORG XMIT: STR722
O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, em Bruxelas, em julho de 2015

"Precisamos manter o livre comércio, eventualmente aperfeiçoá-lo, mas limitá-lo seria o caminho errado", disparou Schäuble.

Apoiaram sua defesa do livre comércio o ministro de Finanças da África do Sul, Pravin Gordhan, e o vice-primeiro-ministro da Turquia, Mehmet Simsek.

Em outro momento, também o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, tratou do assunto com uma frase forte: "Se começar uma guerra comercial, a primeira vítima seriam os Estados Unidos".

A perspectiva de guerra comercial tem sido levantada em todas as análises sobre a ameaça de Trump de impor taxas às exportações chinesas para os Estados Unidos, entre outros anúncios de cunho protecionista.

Santos também informou que os países da Aliança do Pacífico (Colômbia, Chile, México e Peru) já estão discutindo os eventuais cenários após a posse de Trump e a perspectiva de problemas com o México, justamente um de seus integrantes.

"A reação lógica será aumentar a integração que já alcançamos", adiantou o presidente colombiano.

Não descartou que essa integração mais avançada inclua em algum momento futuro o Mercosul, ainda mais agora que os novos governos de Argentina e Brasil se mostram mais inclinados ao diálogo com o bloco do Pacífico.

O ministro alemão não escondeu seu incômodo com Trump durante o debate: disse que era cedo para criticar o novo governo norte-americano, mas ficou em silêncio quando a moderadora Roula Khalaf (do jornal britânico "Financial Times") retrucou que ele poderia apoiar Trump, em vez de criticá-lo.

Já o sul-africano Gordhan preferiu a ironia: "É cedo demais para comentar políticas que são tuitadas", alusão ao fato de que a maioria das propostas de Trump são difundidas pelo Twitter, em vez dos meios tradicionalmente usados pelos políticos.

Não deixou de fazer uma segunda observação que pode ser tomada como crítica ao isolamento que Trump igualmente sinalizou durante a campanha e após a vitória: "A ação coletiva pode fazer hoje pelo mundo o mesmo tipo de políticas adotadas na crise de 2008/09".

De fato, a ação do G20 –de que fazem parte as maiores economias do planeta, Brasil inclusive– foi reconhecidamente decisiva, naquele momento, para evitar que o mundo, em vez de uma recessão, conhecesse uma depressão, muito mais tenebrosa.

O turco Simsek, por sua vez, disse que o protecionismo "seria uma notícia muito ruim para os mercados emergentes".

Mesmo o argentino Nicolás Dujovne, novo ministro do Tesouro, que evitou ir direto ao ponto, usou o caso da Argentina para criticar o isolacionismo: "Políticas isolacionistas foram dramáticas para nós, em termos de crescimento".

Tudo somado, tem-se que Trump assume nesta sexta-feira (20) sob a desconfiança de duas das três maiores economias do mundo depois da dos EUA (China e Alemanha, fora o sempre cauteloso Japão), da maior economia da África (África do Sul) e de um dos maiores mercados emergentes do planeta (a Turquia).

É natural, nessas circunstâncias, que o mundo de Davos veja a chegada de Trump com uma esperança (a de que funcionem os estímulos que ele promete adotar para impulsionar a economia norte-americana) temperada no entanto pelo medo de uma guerra comercial que inexoravelmente poria a perder o crescimento.

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