Ao assumir a Presidência nesta sexta-feira (20), o republicano Donald Trump pode alterar de maneira drástica as relações norte-americanas com a Europa.
Foram décadas de parceria desde a Segunda Guerra (1939-1945), apostando na integração entre os países europeus. Esse sistema, que estimulou o crescimento econômico e evitou confrontos, pode ser agora prejudicado.
Potências europeias já têm demonstrado preocupação com a perspectiva. Mas os efeitos poderão ser sentidos, em primeiro lugar, nas margens desse continente.
Os EUA enviaram neste mês 4.000 soldados à Polônia como uma mensagem à Rússia de que a região báltica está sob sua proteção.
"Nós esperamos vocês por muito tempo", disse o ministro da Defesa polonês, Antoni Macierewicz, assim que as tropas chegaram à cidade de Zagan. Ele afirmou que o país por vezes se sente sozinho na proteção contra a "agressão que vem do leste".
Mas o deslocamento militar, às vésperas do adeus de Obama, não necessariamente será mantido por Trump.
O governo ucraniano também aguarda a posse de Trump com receio.
Sob Obama, os EUA se opuseram à anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, mas o novo presidente pode mudar a política e reconhecer a posse russa.
O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, tem feito campanha contra.
Se os EUA se retirarem desse confronto, o governo russo pode preencher os espaços vazios, consolidando seu poder nas fronteiras europeias e ameaçando a segurança do restante do bloco.
Trump pode minar também o discurso da integração europeia ao apoiar o "brexit", o processo de separação entre o Reino Unido e a União Europeia.
O presidente eleito elogiou a decisão britânica e prometeu um acordo comercial vantajoso ao Reino Unido assim que assumir o cargo.
O republicano deu a entender em entrevistas ao jornal alemão "Bild" e ao britânico "Times of London", publicadas no domingo (15), que a saída do Reino Unido pode inspirar outros países a deixar o bloco econômico.
É esse efeito de manada que a liderança europeia teme. Caso sejam eleitos, políticos como a francesa Marine Le Pen e o italiano Beppe Grillo poderiam seguir o exemplo britânico e encorajar seus países da sair do bloco, levando a um colapso na União Europeia.
RISCOS
A dimensão dos riscos só poderá ser estimada após a posse. Diversos governos europeus já disseram preferir esperar o início do governo Trump, antes de reagir a suas políticas —que permanecem bastante incertas.
Mas o presidente eleito deu mostras de sua visão de mundo durante as entrevistas de domingo, em uma direção pouco animadora.
Trump afirmou que a Otan (aliança militar ocidental) está obsoleta.
Mas esse tratado, do qual 28 países fazem parte, é uma peça fundamental para antagonizar as ambições militares da Rússia de Vladimir Putin —líder que, aliás, o americano já elogiou publicamente.
REFUGIADOS
O republicano também fez pouco caso da política migratória de Angela Merkel, chanceler da Alemanha, que foi a principal aliada de Barack Obama durante sua gestão.
Foi um grande erro, para Trump, permitir a entrada de "ilegais" no país, referindo-se aos refugiados.
As declarações podem ter dado mostras de qual será o tom da interação entre EUA e Europa, daqui em diante.
Merkel e François Hollande, presidente francês, responderam em seguida a Trump: o destino da Europa está nas nossas mãos e não precisamos de conselhos.
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