Rixas diplomáticas marcam início da política externa de Donald Trump

DANIEL AVELAR
DE SÃO PAULO

Em duas semanas de governo, o presidente dos EUA, Donald Trump, já coleciona confrontos diplomáticos, tanto com países considerados hostis a Washington como com antigos aliados. Este é o caso da Austrália, cujo premiê, Malcolm Turnbull, foi alvo da ira de Trump, segundo o "Washington Post".

O jornal afirmou nesta quinta (2) que o republicano se irritou com Turnbull durante o telefonema entre eles no último sábado (28).

O australiano cobrou dele o cumprimento de um acordo, firmado ainda no governo de Barack Obama, que prevê a transferência de alguns dos 1.600 refugiados abrigados nas ilhas pacíficas de Nauru e Papua-Nova Guiné —em troca, a Austrália deveria abrigar deslocados de países como Guatemala, Honduras e El Salvador.

No telefonema, Trump disse que o pacto é "o pior do mundo", segundo o jornal. Ele teria encerrado a ligação antes do previsto, dizendo que a conversa "foi de longe a pior" que teve com líderes estrangeiros. Nesta quinta, numa rede social, ele disse que iria "estudar este acordo estúpido". Depois, minimizou, afirmando que telefonemas duros "não devem ser motivo de preocupação".

Questionado sobre o incidente, Turnbull disse preferir que "as conversas sejam conduzidas de maneira privada" e afirmou que a relação com os EUA continua forte.

Na véspera, Trump voltou-se contra o Irã, depois de o país ter feito dois testes com mísseis balísticos. A Casa Branca colocou Teerã em "aviso prévio", sem explicar o que isso poderia significar.

Em seu canal oficial, o presidente disse que os iranianos deveriam ser "gratos pelo terrível acordo que os EUA fizeram".

Ele fazia referência ao pacto nuclear firmado em 2015 com as potências mundiais, tendo Obama como grande fiador. Ele deu a entender que poderia agir militarmente ao dizer, numa reunião, que "todas as opções estão sobre a mesa para lidar com o Irã".

Ali Akbar Velayati, conselheiro do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, respondeu: "Não é a primeira vez que uma pessoa inexperiente ameaçou o Irã."

Para Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV, "o ambiente é de altíssima incerteza". Segundo ele, a posição de Trump deve trazer consequências geopolíticas principalmente para a Ásia, o Oriente Médio e a Europa.

SANÇÕES À RÚSSIA

Enquanto endurece com a maioria dos países, Trump mantém relação dúbia com a Rússia. Nesta quinta (2), a Secretaria do Tesouro revisou as sanções contra o FSB (Serviço de Segurança Federal da Rússia) para facilitar a venda de equipamentos eletrônicos dos EUA ao mercado russo.

A medida fazia parte das punições impostas por Obama às agências de inteligência de Moscou devido aos ataques cibernéticos e à suposta interferência na eleição vencida por Trump.

Segundo o Tesouro, o alívio permitirá a empresas americanas fazer operações limitadas com o FSB.

Para analistas, a revisão provavelmente já era avaliada antes da posse de Trump, que negou qualquer alteração na relação com Moscou. "Não amenizei nada."

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