Em discurso, Trump defende sistema migratório baseado no mérito

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

Em seu aguardado primeiro discurso ao Congresso, o presidente Donald Trump defendeu, nesta terça-feira (28), uma reforma de imigração "verdadeira e positiva", que esteja baseada no "mérito".

Horas antes, ele havia anunciado a jornalistas estar disposto a fazer uma reforma que legalizasse a situação de milhões de imigrantes ilegais que não cometeram crimes graves —uma mudança radical na forma como Trump vinha tratando o tema desde o início de seu governo.

No discurso, contudo, o presidente, não falou sobre a proposta de conceder aos imigrantes em situação irregular um status que os permita trabalhar e pagar impostos sem o temor de serem deportados —que não incluiria a cidadania americana.

Com essa proposta, milhões de imigrantes seriam beneficiados. Dos 11 milhões de estrangeiros irregulares nos EUA, estima-se que apenas 820 mil foram condenados por algum crime. Dentro dessa fatia, só cerca de 300 mil cometeram algum crime considerado grave, como homicídio ou estupro.

No discurso, porém, o presidente preferiu ressaltar a experiência de outros países, como o Canadá e a Austrália, que se baseiam, segundo ele, num sistema de imigração por mérito.

"A mudança deste sistema atual de imigração menos qualificada para um sistema baseado no mérito terá muitos benefícios: economizará muitos dólares, aumentará os salários dos trabalhadores e ajudará as famílias em dificuldade —incluindo as famílias de imigrantes— a entrar para a classe média", disse Trump.

Ele ainda afirmou ser preciso cumprir as leis de imigração e defendeu sua proposta de construção do muro na fronteira com o México, segundo ele, uma "eficiente arma contra as drogas e o crime". Nesta hora, como em praticamente todo o seu discurso, apenas a metade do plenário da Câmara ocupada pelos republicanos o aplaudiu de pé.

Na última semana, novas regras do Departamento de Segurança Doméstica colocaram como prioridade de deportação imigrantes ilegais que tenham cometido qualquer tipo de crime.

"Estamos removendo membros de gangues, traficantes e criminosos que ameaçam nossas comunidades", disse Trump, que levou como convidados para a cerimônia familiares de vítimas de crimes cometidos por imigrantes ilegais.

ORÇAMENTO

Trump defendeu sua proposta de orçamento, anunciada na véspera, que prevê um aumento de US$ 54 bilhões nos gastos militares às custas de cortes em órgãos como o Departamento de Estado. Segundo ele, para manter os EUA seguros, é preciso oferecer aos militares "as ferramentas que eles precisam para evitar a guerra e —se precisar— lutar e vencer".

A proposta —que prevê reduzir 37% do orçamento do Departamento de Estado e da Usaid (agência para o desenvolvimento internacional)—, contudo, enfrenta resistência inclusive dos republicanos no Congresso. O líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, já disse que a Casa "provavelmente" não aceitará um corte tão dramático no Departamento de Estado.

Trump, que deve apresentar até o fim desta semana um novo decreto restringindo a entrada de cidadãos de países de maioria muçulmana, falou mais uma vez da necessidade de proteger a nação do "terrorismo islâmico radical".

Segundo ele, é "imprudente" permitir a "entrada descontrolada" de pessoas de lugares onde não é possível haver uma checagem apropriada. "Não podemos permitir que nossa nação se torne um santuário para extremistas", disse.

Boa parte do discurso também foi tomada por críticas ao Obamacare, e Trump pediu mais uma vez ao Congresso um esforço para substituí-lo. "Mandar cada americano pagar um seguro de saúde aprovado pelo governo nunca foi a solução certa para a América."

O presidente voltou a repetir suas promessas de campanha, como a promessa de criação de empregos e de colocar os americanos "em primeiro lugar".

Ao país dividido, ele pediu que todos os cidadãos abraçassem esse momento de seu governo, definido por ele como a "renovação do espírito americano". Mais uma vez, foi aplaudido só por metade do público.

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