Desaparecimento de agente em missão da CIA no Irã completa 10 anos

JON GAMBRELL
DA ASSOCIATED PRESS, EM DUBAI (EMIRADOS ÁRABES UNIDOS)

Dez anos depois que um ex-agente do FBI (polícia federal americana) trabalhando em uma missão não autorizada da CIA (serviço secreto americano) desapareceu no Irã, sua família espera que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faça algo que os últimos dois presidentes não conseguiram: finalmente trazê-lo para casa.

A família de Robert Levinson disse à agência de notícias Associated Press (AP) nesta semana que o histórico de Trump como empresário negociados, além de sua política mais dura em relação ao Irã, poderão ser uma vantagem para finalmente determinar o que aconteceu com o investigador, que completa 69 anos nesta sexta-feira (10).

Eles descreveram o sofrimento de ver outros prisioneiros no Irã serem libertados, enquanto permanece o mistério sobre seu desaparecimento. Eles também admitiram o desafio de manter seu caso sob o olhar do público, já que Levinson é prisioneiro há mais tempo que qualquer outro americano na história, caso ainda esteja vivo.

"Acreditamos que as pessoas podem sobreviver dez anos sob quaisquer circunstâncias. Nos piores lugares as pessoas sobrevivem. Sabemos que Bob está vivo", disse à AP sua mulher, Christine Levinson. "Todos os outros saíram do Irã, mas Bob ficou para trás todas as vezes. Agora está na hora de ele ser devolvido à sua família."

Levinson desapareceu da ilha de Kish, no Irã, em 9 de março de 2007. Durante anos, as autoridades americanas só diziam que o agente do FBI, meticuloso e considerado responsável pela captura de bandos criminosos russos e italianos, estava trabalhando para uma empresa privada em sua viagem.

Em dezembro de 2013, a AP revelou que na verdade Levinson estava em uma missão para analistas da CIA que não tinham autorização para efetuar missões de espionagem.

A família Levinson havia recebido uma pensão anual de US$ 2,5 milhões (R$ 7,9 milhões) da CIA para cancelar um processo legal que revelava detalhes de seu trabalho. A agência também expulsou três analistas veteranos e disciplinou ouros sete.

Desde seu desaparecimento, as únicas fotos e um vídeo de Levinson apareceram em 2010 e 2011. Ele estava magro e barbado, com cabelos compridos, e usava um macacão laranja parecido com os usados por detidos na prisão americana em Guantánamo, Cuba.

O vídeo, no qual uma canção de casamento popular no Afeganistão tocava ao fundo, mostrava Levinson queixando-se de problemas de saúde. A família dele acredita que seu diabetes e a pressão sanguínea alta podem ter sido controladas com a perda de peso.

"Não estou muito preocupado com sua saúde", disse seu filho, Dan Levinson. "Entendo que as pessoas pensem que faz dez anos e temam o pior, mas nós não acreditamos nisso."

Hoje o FBI oferece uma recompensa de US$ 5 milhões (R$ 15,8 milhões) por informações que levem à recuperação em segurança de Levinson e ao seu retorno.

Rumores circularam durante anos, um deles afirmando que ele estava em uma prisão em Teerã dirigida pela Guarda Revolucionária paramilitar, e autoridades americanas sugeriram que talvez ele não esteja no Irã.

Dawud Salahuddin, um fugitivo americano que vive no Irã e é procurado pelo assassinato de um diplomata iraniano em Maryland em 1980, é a última pessoa conhecida que viu Levinson antes de seu desaparecimento.

As autoridades iranianas não têm sido muito amistosas. O ex-presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad sugeriu em uma entrevista à AP em 2010 que seu país já suspeitava de Levinson antes que a natureza de sua viagem se tornasse conhecida publicamente.

"É claro que se ficar claro qual era seu objetivo, ou se ele realmente estava em uma missão, talvez se possa dar ajuda específica", disse Ahmadinejad.

A família de Levinson disse que escreveu cartas ao líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, e ao presidente atual, o moderado Hassan Rouhani, sem resposta. A missão do Irã na ONU (Organização das Nações Unidas) não respondeu a um pedido de comentários sobre Levinson.

A falta de resposta, mesmo com a emissão de um relatório pelo Grupo de Trabalho da ONU sobre Detenção Arbitrária, em janeiro, que considerou o Irã responsável por tratar da "situação de Levinson sem mais demora", fez a família acreditar que a linha mais firme de Trump sobre o Irã poderá finalmente forçar o país a libertá-lo.

"Sabemos que se o presidente Trump decidir [se envolver], ele é um negociador. É o que ele faz. Vai ser preciso negociar com os iranianos para tirá-lo de lá", disse Dan, filho de Levinson. "Ele é muito capaz de fazer isso. Estamos esperançosos."

O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse a jornalistas na segunda-feira (6) que o governo Trump está em contato com a família Levinson e disse que "continuamos mantendo a esperança" de que ele possa ser devolvido em segurança do Irã.

Outra autoridade da Casa Branca, que falou sob a condição do anonimato por causa da delicadeza do caso, disse que membros do governo recentemente fizeram uma ligação para membros da família Levinson, que foram tranquilizados de que o caso é uma prioridade do governo Trump. Os Levinson esperam se encontrar pessoalmente com Trump nos próximos meses.

"Nós nunca, jamais perderemos a esperança", disse sua filha, Stephanie Curry. "Nunca perderemos a esperança de que ele volte para casa, para nós."

Traduzido por LUIZ ROBERTO MENDES CONÇALVES

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