Notícias falsas são tão compartilhadas quanto as verdadeiras, diz relatório

DAVID BLOOD
DO "FINANCIAL TIMES"

Quase um quarto do conteúdo compartilhado no Twitter pelos usuários do serviço no disputado Estado de Michigan, nos últimos dias da campanha presidencial americana do ano passado, envolvia notícias falsas, de acordo com um estudo realizado pela Universidade de Oxford.

Pesquisadores do Instituto de Internet de Oxford (OII) também determinaram que o volume de notícias falsas compartilhadas por usuários foi praticamente igual ao de "notícias profissionais", no mesmo período.

O relatório, publicado na segunda-feira (27), conclui que os links para artigos contendo notícias falsas postados no Twitter por uma amostra de 140 mil usuários radicados em Michigan responderam por 23% do total de links compartilhados por eles no serviço, nos 10 dias anteriores a 11 de novembro do ano passado.

A proliferação de notícias falsas, especialmente via mídias sociais, vem sendo apontada como causa de distorção das percepções públicas e do debate político em diversos países ocidentais, e alguns líderes políticos começaram a se aproveitar do termo para descartar notícias de fontes confiáveis mas que apresentam tom crítico quanto a eles.

As notícias profissionais, definidas como notícias e informações políticas veiculadas por organizações que exibam as qualidades do jornalismo profissional, responderam por outros 23% dos links postados pelos usuários do Twitter acompanhados pela pesquisa em Michigan, o que sugere que esse tipo de conteúdo não apresenta probabilidade de compartilhamento mais alta que a das notícias falsas.

Os pesquisadores também categorizaram links para artigos noticiosos com origens na Rússia e para conteúdo postado pelo WikliLeaks e não verificado. Se acrescentarmos essas categorias às chamadas notícias falsas, as três categorias somadas foram compartilhadas mais vezes, no total, do que as notícias profissionais.

"Creio que seja seguro dizer que isso é ruim para a vida pública e a conversação política [em Michigan]", disse o professor Philip Howard, principal pesquisador do Projeto sobre Propaganda Computacional do OII.

Pesquisas de opinião pública junto a eleitores de Michigan realizadas imediatamente antes da eleição de 8 de novembro mostravam mais de três pontos percentuais de vantagem para a candidata democrata Hillary Clinton, sobre o agora presidente Donald Trump. Trump terminou vencendo a eleição no Estado por 0,2%, e se tornou o primeiro republicano a vencer lá desde 1988.

A despeito de ser objeto de intenso debate, especialmente depois da eleição dos Estados Unidos, o fenômeno das notícias falsas não é tema de muitas pesquisas quantitativas. "Acreditamos que essa seja a primeira pesquisa real sobre notícias falsas divulgadas via mídia social", disse o professor Howard.

Um segundo relatório do OII, também publicado na segunda-feira, afirmava que o índice de compartilhamento de notícias falsas pelos usuários que postaram tuítes sobre a recente eleição presidencial alemã foi de apenas 10%, entre 11 e 13 de fevereiro. Além disso, as notícias profissionais foram compartilhadas por proporção quase duas vezes mais alta dos usuários do que a constatada no estudo sobre o Michigan (45%).

O professor Howard explicou que embora o papel do presidente da Alemanha seja em larga medida cerimonial e que ele seja eleito pelo Legislativo, realizar o estudo de fevereiro havia sido importante para estabelecer um referencial quanto às notícias falsas antes da eleição federal alemã que acontecerá em setembro.

Além do compartilhamento de notícias falsas, os pesquisadores também tentaram medir o nível de atividade de "bots" gerada por contas parcial ou totalmente automatizadas, no Twitter.

"Acreditamos que a probabilidade de que bots revelem informações de localização é muito mais baixa, e por isso, ao nos concentrarmos em um subconjunto de usuários [localizados em Michigan], pudemos descartar boa parte da atividade de bots", ele explicou. O estudo alemão, embora não tenha sido específico em termos geográficos, ainda assim identificou "um nível em geral baixo de automação relacionada a bots".

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