Rússia teme que atentado no metrô cause turbulência política no país

KATHRIN HILLE
HENRY FOX
DO FINANCIAL TIMES, EM MOSCOU

O atentado que matou 14 e feriu quase 50 pessoas em São Petersburgo força a Rússia a encarar não só a causa da nova ameaça terrorista como as potenciais consequências do ataque para sua turbulenta política interna.

Na terça-feira, as autoridades russas identificaram um cidadão russo nascido no Quirguistão como suspeito do atentado suicida contra um trem do metrô de São Petersburgo no dia anterior. O Comitê Federal de Investigação russo anunciou que havia recorrido a imagens de câmeras de segurança e traços de ADN obtidos de um segundo aparato explosivo, não detonado, para identificar Akbarzhon Jalilov, nascido em 1995 em Osh, uma região inquieta no sul do Quirguistão.

Horas depois do ataque, os críticos do governo se manifestaram nas mídias sociais expressando o medo de que o Kremlin invoque a ameaça à segurança do país como justificativa para reprimir a atividade oposicionista incipiente.

"Eles usarão a explosão no metrô para aumentar a pressão", escreveu Stanislav Belkovsky, antigo operador de relações públicas do Kremlin que se tornou crítico de Putin.

O ativista dos direitos civis Vadim Korovin recorreu ao Twitter na segunda-feira para questionar: "Quem você acha que está por trás do atentado terrorista? O FSB/serviços especiais ou algum outro terrorista?" A mensagem se refere à suspeita generalizada de que o serviço de segurança federal russo, que sucedeu ao KGB, tenha sido o responsável por atentados contra edifícios de apartamentos em Moscou, em 1999, que serviram como justificativa de Putin para uma brutal campanha militar na Tchetchênia.

Mas Ilya Ukhov, jornalista que ataca e ridiculariza constantemente os críticos do governo, disse que, para a oposição, qualquer cenário de repressão mais forte, depois do atentado, poderia servir como desculpa para sua incapacidade de conquistar apoio político significativo.

Seria "um fracasso de orgulho, que permitiria que eles contassem aos seus patrocinadores estrangeiros (e também nacionais, claro,) sobre os tormentos sofridos nas 'masmorras da ditadura'", ele escreveu terça-feira no LifeNews, um portal noticioso leal ao Kremlin e conhecido por seu relacionamento muitas vezes estreito com os serviços de segurança.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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