ANÁLISE
Efeito de retaliação contra a Síria beneficia Trump
Alex Brandon/Associated Press | ||
O presidente dos EUA, Donald Trump, durante coletiva de imprensa sobre o ataque do país contra a Síria |
Nada como um inimigo externo e uma causa justa para conciliar desavenças internas, suspender momentaneamente atritos espinhosos e mudar a agenda política. Os efeitos dos mísseis disparados pelos EUA na noite de quinta-feira (6) contra uma base militar da Síria foram bastante positivos para o presidente Donald Trump.
Com sua experiência de homem de TV e facilidade de comunicação com o americano comum, Trump foi o protagonista de um espetáculo midiático bem-sucedido. Começou com suas declarações emocionadas sobre o horror que as imagens de crianças atingidas por armas químicas lhe causaram e terminou com o anúncio da ordem para bombardear o local de onde teria partido o ataque.
As reações não poderiam ter sido melhores para um presidente com índices declinantes nas pesquisas de opinião e para um governo que recentemente reiterava na ONU não considerar prioritária a remoção de Assad para pacificar a Síria. A retaliação militar foi também providencial para deixar em segundo plano as investigações sobre as relações ocultas de assessores da Casa Branca com o governo russo –que condenou a ação americana, recolocando as coisas simbolicamente no seu devido lugar.
O jornal "The New York Times", que tem sido um dos mais ácidos críticos da administração Trump e do estilo personalista do presidente parece ter encontrado agora um motivo para demonstrar sua generosidade –num artigo publicado na primeira página de sua versão eletrônica, o articulista Mark Lander deixa-se envolver com as emoções externadas pelo presidente e com seus instintos de homem de negócios, que teriam determinado a ação contra a Síria.
Por ora, também foram deixadas na geladeira as tentativas do presidente, até aqui frustradas pela Justiça, de bloquear a entrada nos EUA de refugiados sírios e de imigrantes de países de maioria muçulmana. Trump ganhou ainda o bônus da solidariedade de países europeus que vinham mantendo cautelosa distância de sua confusa política externa.
Para coroar esse interregno de bonança, a indicação do juiz conservador Neil M. Gorsuch para a Suprema Corte, que se via ameçada de obstrução pelos democratas no Senado, foi confirmada. Nada mau. Resta saber o que os mísseis sobre a Síria vão representar –se uma retaliação episódica ou se o início de uma nova linha de política externa.
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