Coreia do Norte usa intermediários chineses para produzir mísseis

JOBY WARRICK
DO "WASHINGTON POST"

Quando a Coreia do Norte lançou ao espaço seu satélite Kwangmyongsong-4, em fevereiro do ano passado, as autoridades norte-coreanas exaltaram o evento como um presente de aniversário ao líder anterior do país, Kim-Jong-il [morto em 2011]. Mas o dia também propiciou um presente inesperado aos adversários da Coreia do Norte, na forma de pedaços do foguete que caíram no Mar Amarelo.

Seções inteiras do foguete foram recolhidas pela marinha da Coreia do Sul e examinadas por especialistas internacionais em armas, em busca de pistas quanto ao estado do programa de mísseis norte-coreano. Examinando partes do propulsor e seu cabeamento, os pesquisadores perceberam um padrão. Muitos dos principais componentes do foguete haviam sido fabricados no exterior, e adquiridos junto a empresas sediadas na China.

A descoberta "demonstra o quanto componentes estrangeiros de ponta são importantes" para a construção dos mísseis que a Coreia do Norte usa para ameaçar seus vizinhos, concluiu uma equipe de especialistas da ONU em um relatório divulgado no mês passado. Quando representantes das Nações Unidas contataram as empresas chinesas envolvidas, para questioná-las sobre os componentes, não receberam resposta.

O complexo relacionamento entre a China e a Coreia do Norte foi um dos tópicos principais na visita do presidente chinês Xi Jinping aos Estados Unidos na semana passada, quando o governo Trump instou as autoridades chinesas a aplicar mais pressão contra Pyongyang a fim de forçar a Coreia do Norte a suspender seu trabalho em armas nucleares e sistemas de longo alcance para carregá-las.

No entanto, a despeito dos esforços que os chineses fazem em público para cercear as provocações da Coreia do Norte, empresas chinesas continuam a funcionar como intermediárias, fornecendo ao isolado regime comunista tecnologia e peças que permitem que os mísseis funcionem, de acordo com especialistas em armas dos Estados Unidos, da ONU e independentes.

A mesma mensagem já foi transmitida por meio de canais privados como parte de uma campanha de pressão que data no mínimo dos primeiros anos do governo Obama. Em reuniões, as autoridades dos Estados Unidos advertiram que não deter o comércio ilícito poderia acelerar o cronograma nuclear de Kim Jon Un e aumentar o risco de uma guerra regional, que devastaria as economias da região e levaria legiões de refugiados a buscar proteção na China –um desfecho que os líderes chineses estão especialmente ansiosos por evitar, de acordo com um diplomata norte-americano recentemente aposentado, veterano de diversas rodadas desse tipo de negociação.

"A China pode estar disposta a fechar os olhos a algumas coisas", disse o diplomata, "mas não está disposta a acolher a Coreia do Norte ao clube dos países equipados com armas nucleares".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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