Bombas, não só as químicas, matam civis

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O comunicado oficial da Casa Branca sobre o lançamento no Afeganistão da chamada "mãe de todas as bombas" (o maior artefato não nuclear jamais utilizado pelos Estados Unidos) tem um certo ar de propaganda.

Não devia. Menos ainda dias depois de os Estados Unidos terem reagido com 59 mísseis Tomahawk ao ataque com armas químicas feito pelas forças sírias, segundo Washington.

Armas químicas matam, mas bombas convencionais matam da mesma maneira, uma obviedade que é sempre bom recordar.

Os Estados Unidos justificaram o ataque à uma base aérea síria com a alegação de que o as armas químicas mataram civis, inclusive "lindas crianças", como disse o presidente Donald Trump.

É horrível de fato, mas a ONG Action on Armed Violence do Reino Unido diz que tem demonstrado "reiteradamente ao longo dos anos que quando artefatos explosivos são usados em áreas habitadas, mais de 90% dos mortos ou feridos são civis".

Mesmo em áreas menos habitadas, os civis mortos ou feridos são 25% do total de vítimas.

Conclui Iain Overton, diretor-executivo do grupo: "Quanto maior a explosão, mais civis serão mortos".

Ou seja, mesmo que o alvo visado –túneis e pessoal do Estado Islâmico– fosse o terrorismo, já seria uma temeridade.

Piora as coisas o fato de que, na antevéspera, um ataque aéreo da coalizão liderada pelos EUA havia atingido por engano um grupo de milicianos das Forças Democráticas Síria, aliada dos Estados Unidos. Morreram 18 integrantes do grupo rebelde no bombardeio na cidade de Tabqua, na Síria.

Vale para esse erro a observação de Iain Overton sobre "a mãe de todas as bombas":

"Essa bomba não pode ser direcionada, não pode ser proporcional e não pode senão matar civis".

Acaba servindo para a propaganda dos Assads e Putins.

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