Ação do governo da Turquia limita campanha da oposição pelo 'não'
12.mar.2017/Associated Press | ||
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que pode aumentar poderes caso vença o plebiscito |
O deputado Baris Yarkadas se reúne com sua equipe em Istambul antes de começar o último dia de campanha.
Diante do estreito do Bósforo, planeja sua derradeira oportunidade de convencer eleitores a rejeitar o plebiscito. A partir do entardecer de sábado (15), na véspera do voto, os comícios serão proibidos.
Não é um esforço ordinário, em uma nação que vive em estado de emergência desde julho. "É bastante difícil fazer campanha nestas condições", afirma. Yarkadas é membro do CHP (Partido Republicano do Povo), a principal força de oposição.
O estado de emergência em vigor facilita, por exemplo, a detenção de ativistas e restringe as manifestações.
A campanha do "não" diz enfrentar, ainda, todo o aparato do governo, investido em aprovar o plebiscito.
"O governo tem as ferramentas do Estado à sua disposição", afirma Yarkadas. Ele estima que a oposição só teve acesso a dois canais de televisão e a três jornais, entre dezenas de veículos.
Há denúncias de que o governo também tenha deslocado prefeitos, governadores e policiais para sua campanha nas províncias do interior, intimidando vilarejos com a ameaça de cortar serviços e subsídios agrícolas.
"Nós resumimos a campanha assim: o governo está concorrendo contra o povo, tentando impôr o 'sim'", diz.
Yarkadas afirma que, em condições desfavoráveis, a oposição conseguiu disputar contra a burocracia porque se deslocou às redes sociais, onde tem mais liberdades.
"Quando perdemos o acesso à televisão, criamos nossos próprios canais na internet", diz. "Fizemos filmes para o Facebook, enviamos mensagens via Whatsapp."
PODERES
A campanha foi também às ruas distribuir folhetos. A Folha não testemunhou abuso policial contra os manifestantes, que ergueram suas próprias tendas, mas alguns eleitores, como Kenan Turhan, 31, preferiam falar em voz baixa. "Se o 'sim' ganhar, vamos ter uma ditadura", afirma o engenheiro civil. "Não entendo por que o governo quer mudar o sistema, se já tem tantos poderes hoje."
É um modelo bastante repressivo com tendência a se agravar, diz Henry Barkey, diretor do programa de Oriente Médio do Centro Woodrow Wilson e ex-integrante do time de planejamento de políticas do Departamento de Estado americano.
"O governo inteiro apoiou o referendo, sem poder levantar a voz contra, e o fato de que o 'não' tenha tamanho apoio indica a existência de uma oposição forte", diz. "Mesmo pessoas que gostam do governo não querem dar tanto poder ao presidente."
"Com o 'sim', ele poderá demitir ministros e nomear juízes, e a separação entre os poderes desaparecerá."
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