Macron e Le Pen vão ao 2º turno na França, em revés de siglas tradicionais
Christian Hartmann/Reuters | ||
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Emmanuel Macron (centro) deverá enfrentar Marine Le Pen no segundo turno, em 7 de maio |
O centrista independente Emmanuel Macron e a direitista Marine Le Pen venceram o primeiro turno das eleições francesas neste domingo, classificando-se para o embate final em 7 de maio.
O resultado é histórico, destronando os tradicionais Partido Socialista, atualmente no governo, e Republicanos (centro-direita), do ex-presidente Nicolas Sarkozy.
É a primeira vez na história moderna da França em que nenhum candidato dos principais partidos chega ao segundo turno. Rejeitados nas urnas, eles deixam um espaço em aberto para a população testar outras forças.
Com 97% dos votos apurados, Macron tinha 23,86%, enquanto Le Pen alcançava 21,43%. Na sequência vinham o conservador François Fillon, com 19,94%, e o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, 19,62%. O candidato do Partido Socialista, Benoît Hamon, recebia apenas 6,35%.
O resultado encerra um período de grande incerteza política no país –e inaugura uma segunda etapa, que será marcada por discussões sobre a globalização e sobre a própria identidade francesa.
O cenário da disputa entre Macron e Le Pen no segundo turno, já testado em pesquisas de opinião nos últimos meses, seria provavelmente vencido pelo candidato centrista, ex-ministro da Economia –nunca antes eleito a um cargo público. Ele receberia 62% dos votos contra 38% de Le Pen, diz o instituto Ipsos.
"Eu quero ser o presidente dos patriotas diante da ameaça dos nacionalistas", disse Macron, referindo-se à rival Le Pen, que tem como característica o ultranacionalismo.
Derrotados, tanto o Partido Socialista quanto os Republicanos declararam seu apoio ao candidato centrista como maneira de impedir a direita radical de vencer.
Le Pen, por sua vez, disse que o "grande debate" finalmente acontecerá. Contrária à migração e ao islã, ela representa a Frente Nacional, sigla tradicionalmente considerada xenófoba. "Os franceses devem aproveitar essa chance histórica", afirmou.
Estas eleições francesas são um dos pleitos mais importantes do ano no cenário global e terão um efeito decisivo no futuro da Europa.
Macron e Le Pen divergem em um assunto fundamental: a União Europeia. Ele defende mais integração, enquanto ela quer um plebiscito para deixar o bloco econômico, a exemplo do Reino Unido.
Discordam também sobre a Otan, a aliança militar ocidental: Le Pen quer sair e Macron quer ficar.
INCERTEZA
O primeiro turno foi marcado por mudanças radicais. Meses atrás, era cogitada a disputa entre o conservador Nicolas Sarkozy e o presidente François Hollande, que nem chegaram a concorrer.
Sarkozy foi derrotado nas primárias de seu partido e Hollande, extremamente impopular, não se candidatou.
Sondagens colocavam quatro candidatos tão próximos na intenção de voto que os institutos de pesquisa não se arriscavam a prever o resultado do primeiro turno.
A incerteza era alimentada também pelo fato de que 31% dos eleitores não sabiam, às vésperas, em quem votar -consequência da desintegração do espectro político, em meio à desilusão com o governo socialista e aos escândalos de corrupção no partido conservador.
As eleições foram realizadas em meio a um ostensivo aparato de segurança, após um tiroteio deixar um policial morto na quinta-feira (20) em Champs-Élysées.
O ataque, reivindicado pelo Estado Islâmico, pode ter contribuído com a campanha de Le Pen, que tem aversão à migração e ao islã.
Os 67 mil locais de votação, abertos às 8h locais (às 3h em Brasília), foram monitorados por mais de 50 mil policiais e de 7.000 soldados.
Uma seção foi esvaziada em Besançon, no leste do país, após um veículo roubado ser abandonado nos arredores com o motor ainda ligado. Houve incidentes semelhantes em outras regiões, sem vínculo com terrorismo.
CORRUPÇÃO
A corrida presidencial francesa tinha 11 candidatos, dois quais apenas Macron e Le Pen poderão disputar o segundo turno de 7 de maio.
Os outros dois concorrentes de peso, o conservador Fillon e o esquerdista Mélenchon, também haviam sido cotados para chegar à final. A proximidade das porcentagens impossibilitava a certeza até esta tarde.
Fillon, em especial, foi considerado por meses como o favorito à Presidência. Sua candidatura, no entanto, afundou após um semanário satírico publicar a acusação de que ele contratou a mulher para um cargo público que ela nunca exerceu.
Ele nega, mas a suspeita teve um grande impacto em sua campanha. Ele havia sido eleito durante as primárias da direita como um candidato particularmente limpo —contra Alain Juppé e Nicolas Sarkozy, que já foram acusados anteriormente.
Le Pen também enfrentou acusações, mas de menos impacto em seu eleitorado. A direitista teria utilizado verbas europeias de maneira ilegal em seu partido, a Frente Nacional, remunerando um guarda costas como assessor parlamentar.
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