Fala de assessor de Trump sobre Muro das Lamentações irrita Israel

Crédito: Baz Ratner - 04.set.2013/Reuters Jewish worshippers pray at the Western Wall, Judaism's holiest prayer site, in Jerusalem's Old City September 4, 2013 ahead of Rosh Hashanah, the Jewish New Year which starts at sundown on Wednesday. Leading up to Yom Kippur, the day of atonement, which follows Rosh Hashanah, Jews offer prayers of repentance and ask God to forgive their sins in a daily prayer service called Slichot. REUTERS/Baz Ratner (JERUSALEM - Tags: RELIGION) ORG XMIT: JER8
Oração no Muro das Lamentações, na Cidade Velha de Jerusalém

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Um membro sênior da comitiva que prepara a visita do presidente Donald Trump a Israel, na semana que vem, criou um tremendo mal estar com as autoridades israelenses, ao dizer a seus pares locais que "o Muro Ocidental [ou das Lamentações] não é seu território; é parte da Cisjordânia, reservada aos palestinos pelas Nações Unidas.

O incidente foi relatado pela televisão israelense e, como é óbvio, provocou irada reação do governo, que se disse "chocado" com o comentário, conforme relato do site "Times of Israel".

A reação israelense, por sua vez, provocou uma retratação da Casa Branca: "Os comentários sobre o Muro das Lamentações não são uma comunicação autorizada e não representam a posição dos Estados Unidos e certamente não a do presidente", relata o "Times of Israel".

É fácil entender a irritação dos israelenses: o Muro é o mais sagrado local de orações para os judeus. É parte do que sobrou do Antigo Templo e, como tal, o ponto de oração mais próximo do próprio Templo.

A área que ocupa foi capturada, junto com o restante da Cidade Velha de Jerusalém e Jerusalém Ocidental, na guerra de 1967 e a partir de então foi anexada por Israel como componente de sua capital, que os judeus consideram una e indivisível.

Mas a anexação não é reconhecida pela comunidade internacional e, obviamente, tampouco pelos palestinos, que querem fazer da Jerusalém Oriental a sua capital, se e quando conseguirem constituir um Estado.

O comentário do membro da comitiva norte-americana foi em resposta ao pedido dos israelenses para que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu acompanhasse Trump na visita que deve fazer ao Muro, durante sua estada em Israel, nos dias 22 e 23.

A delegação norte-americana rejeitou a solicitação, alegando que a visita de Trump seria privada (será, aliás, a primeira visita de um presidente norte-americano ao local sagrado para os judeus; outros presidentes já estiveram no local, mas não no exercício do cargo).

Os israelenses pediram então que fosse permitido que uma equipe de TV local pudesse filmar a estada no Muro das Lamentações.

Deu-se então a "rude resposta" do representante norte-americano, segundo o relato do "Times of Israel":

"Do que vocês estão falando? Não é de seu interesse. Não é nem parte de sua responsabilidade. Não é seu território. É parte da Cisjordânia.

O incidente dá uma perfeita ideia do equilibrismo que Trump terá que fazer em Israel se quiser de fato conduzir negociações que levem a um acordo de paz, ideia que repete incessantemente.

Se há, na equipe avançada do presidente, quem considere o mais sagrado local do judaísmo como fora do território de Israel, mais ainda será a própria Jerusalém, a cidade em que Israel quer que se instale a embaixada norte-americana (hoje, está em Tel Aviv, como a esmagadora das representações estrangeiras em Israel).

O secretário de Estado, Rex Tillerson, acaba de dizer que Trump está avaliando se transferir a embaixada para Jerusalém ajuda ou atrapalha o processo de paz. Os israelenses já responderam que ajuda, os palestinos acham que seria uma afronta.

Resta saber se Trump dirá algo na sua visita. O que quer que diga desagradará um lado e, se não disser nada, frustrará a expectativa de Israel.

Crédito: Esplanada das mesquitas - Jerusalém
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