Jornalista premiado é morto no México em onda de assassinatos

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Com o assassinato, nesta segunda-feira (15), de Javier Valdez Cárdenas, fundador do semanário "Ríodoce", de Culiacán, no Estado de Sinaloa, já são seis os jornalistas mortos apenas neste ano no México. Em 2016, o país bateu seu próprio recorde anual, com 11 repórteres mortos, transformando-se no país mais perigoso do mundo para a imprensa, além das zonas consideradas formalmente em guerra.

Segundo levantamento realizado pela ONG Article 19, com sede em Londres e que trata de temas relacionados a crimes contra profissionais da imprensa, desde 2000 até hoje já foram mortos 105 jornalistas no país, enquanto 25 estão desaparecidos e mais de 200, agredidos.

Segundo a ONG, a maioria dos assassinatos e desaparições está relacionada a profissionais que investigavam diretamente as ações de cartéis ou acusações de corrupção de políticos financiados pelos narcos.

Valdez, autor de livros de investigação sobre o tema ("Huérfanos del Narco" e "Narcoperiodismo", entre outros) também atuava como correspondente do diário "La Jornada", da Cidade do México, e da agência de notícias France Presse.

Na manhã desta segunda (15), quando saía do edifício onde funciona a redação do "Ríodoce", Valdez foi abordado por homens encapuzados que dispararam contra ele. O mesmo prédio já tinha sido atacado com granadas, em 2009.

Por Twitter, o presidente Enrique Peña Nieto, lamentou o ocorrido e afirmou ter dado instruções à Procuradoria nacional que apoie as autoridades locais.

Sinaloa é um dos estados mais afetados pelos enfrentamentos entre Exército e cartéis desde que uma ofensiva chamada de "guerra ao narcotráfico" teve início, em 2006, ainda sob a gestão de Felipe Calderón.

Em 2011, o Comitê para a Proteção a Jornalistas (CPJ) havia entregue a Valdez o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa, "por sua valente cobertura do narcotráfico e por dar nome e rosto às vítimas."

Em seu discurso de agradecimento, Valdez disse que "em Culiacán, fazer jornalismo é caminhar sobre uma linha invisível marcada pelos maus, que estão no narcotráfico e que financiam os governos regionais".

O caso teve grande repercussão, uma vez que Valdez era uma figura de presença nacional e era uma referência constante a colegas da capital quando buscavam informações sobre o que ocorria em Sinaloa —Estado que deu origem ao cartel que era comandado pelo "Chapo" Guzmán, líder narco hoje extraditado aos EUA.

O crime também causou espanto por ser parte de uma escalada de violência. Só em março, haviam sido mortos três profissionais da imprensa. O caso mais célebre foi o assassinato da jornalista Miroslava Breach, que levou oito tiros ao levar o filho para a escola, em Chihuahua.

A morte de Breach levou seu amigo e colega, Oscar Cantú, dono do jornal "El Norte", onde ela escrevia, a encerrar as atividades da publicação. À Folha, Cantú disse que "o fato de que todos esses assassinatos ficaram impunes foi o que me levou a não querer arriscar mais a vida de nenhum dos meus profissionais".

De fato, até hoje, nenhum desses crimes foi solucionado.

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