Polícia de Manchester para de passar informações aos EUA após vazamentos
O Reino Unido decidiu nesta quinta-feira (25) parar de compartilhar informações sobre o atentado em Manchester com os Estados Unidos após autoridades do país vazarem dados à imprensa.
A decisão foi tomada pela polícia de Manchester, não pelo gabinete da primeira-ministra Theresa May. Ainda assim, May expressou irritação sobre os vazamentos –o governo teme que a divulgação precipitada de informações possa comprometer a investigação sobre o ataque terrorista.
"Deixarei claro para o presidente [Donald] Trump que a inteligência compartilhada entre nossas agências de segurança deve permanecer segura", declarou o primeira-ministra. Ela deve encontrar o líder americano durante uma cúpula da Otan (aliança militar ocidental) nesta quinta-feira em Bruxelas.
Um homem-bomba identificado como Salman Abedi se explodiu na saída de um concerto da cantora americana Ariana Grande na segunda-feira (22) à noite em Manchester, matando 22 pessoas e deixando dezenas de feridos. A explosão foi causada por uma bomba caseira que, ao ser detonada, lança pregos e estilhaços.
As autoridades investigam uma "rede" que teria ajudado o terrorista e buscam possíveis conexões com grupos radicais na Líbia e na Síria, como o Estado Islâmico, que reivindicou a autoria do ataque.
Desde o atentado, a polícia britânica tem divulgado informações limitadas sobre a investigação com o intuito de preservá-la. Entretanto, autoridades dos Estados Unidos vazaram diversos dados à imprensa do país, como o nome do homem-bomba e imagens de fragmentos do explosivo utilizado na ação.
Nos últimos dias, autoridades britânicas vinham criticando os vazamentos americanos, chegando a classificá-los de "irritantes" e "inaceitáveis" por potencialmente comprometerem as investigações e violarem a privacidade dos familiares das vítimas.
O jornal "New York Times" defendeu nesta quinta-feira a decisão de publicar, na véspera, as imagens do explosivo. "As imagens e informações apresentadas não eram agressivas nem desrespeitosas com as vítimas (...) Nossa cobertura do terrível ataque de segunda-feira foi abrangente e responsável."
Após a decisão da polícia britânica, Trump afirmou que os vazamentos são "muito preocupantes" e ordenou uma investigação "a fundo" sobre eles. "Se for adequado, os culpados devem ser processados em toda a extensão da lei", declarou. O republicano já havia criticado vazamentos à imprensa que prejudicaram seu governo.
A cooperação em inteligência é limitada ao inquérito sobre o ataque em Manchester e deve se manter em outras áreas. Aliados dos Estados Unidos têm expressado crescente preocupação com o compartilhamento de informações com os americanos após a decisão do presidente Trump de revelar a autoridades russas dados sigilosos sobre terrorismo obtidos por Israel.
PRISÕES
A polícia do Reino Unido prendeu nesta quinta-feira mais dois suspeitos de conexão com o atentado em Manchester, elevando para oito o número de detidos no país desde o ataque. As autoridades dizem ter progredindo nas investigações, encontrando pistas importantes sobre o ataque.
Uma das prisões desta quinta-feira ocorreu no distrito de Hulme, em Manchester, após a polícia isolar um prédio residencial em busca de um pacote suspeito.
Autoridades da Líbia detiveram na quarta-feira em Trípoli outro irmão e o pai do suposto homem-bomba de Manchester. Salman Abedi, 22, nasceu no Reino Unido, tinha família líbia e havia visitado o país norte-africano recentemente.
May decidiu nesta quinta-feira manter o alerta de terrorismo em nível "crítico", indicando que um novo ataque pode acontecer a qualquer momento. O governo mobilizou quase 1.000 militares para reforçar a segurança no país, principalmente em pontos movimentados de Londres.
As autoridades britânicas atualizaram nesta quinta-feira o número de vítimas do atentado. Além dos 22 mortos, 116 pessoas ficaram feridas e receberam tratamento hospitalar após a explosão –dessas, 23 continuam em estado crítico. Até agora, vinha sendo divulgado um número menor de feridos.
Em um hospital em Manchester, a rainha Elizabeth 2ª visitou nesta quinta-feira crianças que ficaram feridas na explosão e disse que a ação foi "muito perversa".
Por causa do ataque, a campanha das eleições parlamentares de 8 de junho foi suspensa, devendo ser retomada nos próximos dias.
O atentado a Manchester é o pior no país desde o ataque contra o sistema de transporte público de Londres em 2005, que deixou 52 mortos.
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