Ao contrário do que se poderia imaginar, a decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, de retirar seu país do Acordo de Paris foi criticada por grandes petroleiras e empresas da área de energia.
O abandono também esbarrou na opinião de alguns assessores da Casa Branca, que saíram derrotados no episódio.
Segundo a rede CNN, a Exxon, maior companhia de petróleo dos EUA, já havia enviado uma carta à Casa Branca no mês passado manifestando-se a favor da permanência no acordo por considerar seu escopo "efetivo para enfrentar os riscos da mudança climática".
Não por acaso, o Secretário de Estado, Rex Tillerson, que foi CEO da Exxon de 2006 a 2016, é um dos assessores apontados como contrários à decisão, assim como a filha de Trump, Ivanka, e seu genro, Jared Kushner.
Além da Exxon, a Chevron, a Shell e a BP, outras gigantes globais do setor, se pronunciaram oficialmente a favor do continuidade do acordo.
Essa posição reflete o crescente investimento dessas empresas em gás natural e energias alternativas, além do interesse em reduzir a presença do carvão —um aspecto relevante do pacto ambiental.
Em seu discurso para anunciar o rompimento, Trump convocou dois figurões do governo para apoiá-lo, numa tentativa de minimizar as desavenças em sua equipe —o vice-presidente, Mike Pence, e o diretor da agência ambiental, Scott Pruitt.
O presidente falou sobretudo a seus apoiadores. Insistiu no bordão "America First" (América Primeiro, em inglês) e reiterou que estava cumprindo suas promessas de campanha em defesa de empregos e do bem-estar das famílias americanas.
Num acesso de nacionalismo paroquial (e de mistificação), Trump afirmou ser representante dos cidadãos de Pittsburgh (tradicional centro industrial do país) e não dos de Paris.
Curiosamente, uma pesquisa do Programa de Mudança Climática da Universidade Yale aponta que quase metade dos eleitores do republicano (47%) acredita que os EUA devam participar de acordos internacionais para limitar o aquecimento global, enquanto apenas 28% são contrários.
Outro aspecto que chamou a atenção no discurso foi a relação que o presidente estabeleceu entre países signatários do acordo e aqueles que supostamente não cumprem suas obrigações financeiras em alianças militares.
Foi uma referência direta à União Europeia e à Otan, o pacto militar do ocidente, logo após sua recente viagem ao exterior.
Os atritos com aliados europeus têm recebido severas críticas internas. Muitos analistas consideram que Trump estaria retirando o país do papel estratégico de liderança global.
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